Política

Bolsonaro implanta ruptura conservadora no Brasil

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro (3-D) participa da cerimônia em que alguns dos ministros de seu gabinete tomam posse do cargo no Palácio do Planalto em Brasília, 2 de janeiro de 2019/AFP / EVARISTO SA

O presidente de extrema direita recém-empossado, Jair Bolsonaro, começou nesta quarta-feira (2) a implementar seu programa de ruptura conservadora no campo social, com uma agenda econômica liberal e de alinhamento com os Estados Unidos de Donald Trump na diplomacia.

“Tem havido uma longa tradição no Brasil de eleger presidentes que por alguma razão eram inimigos” dos Estados Unidos, declarou Bolsonaro a jornalistas americanos após se reunir com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo.

“Agora é o contrário, somos amigos”, emendou.

O novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, comemorou o alinhamento do Brasil com os Estados Unidos, “a nova Itália”, a Hungria e outros países que fazem parte da onda antiglobalização que se espalha pelo planeta: uma política que rompe com a tradicional diplomacia brasileira de buscar a equidistância com as grandes potências e com a política de estreitar as relações Sul-Sul dos governos de esquerda (2003-2016).

– Conservadores, ‘Chicago boys’ e ‘eleitos’ –

Os mercados receberam com fortes altas a ratificação pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de medidas de ajuste fiscal – a começar pela reforma da Previdência – e um programa de privatizações.

O índice Bovespa, da Bolsa de São Paulo, bateu um recorde histórico ao superar pela primeira vez os 90.000 pontos (a 91.012, em alta de 3,56%) e o real se valorizou diante do dólar.

Ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em Brasília, em 2 de janeiro de 2019/AFP / Sergio LIMAO


Guedes, formado na escola de Chicago, berço do liberalismo, explicou, ao assumir formalmente o cargo que o Brasil será governado nos próximos quatro anos por “uma aliança de conservadores em questões de princípios e costumes com liberais na economia”.

Essa mistura está impregnada de tom messiânico, reforçado pelo forte apoio dado a Bolsonaro pelas igrejas evangélicas neopentecostais.

O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, vê na chegada ao poder de Bolsonaro, cujo segundo nome é Messias, um desígnio divino.

“Muitos são chamados, poucos os escolhidos. E Jair Messias Bolsonaro foi chamado, para quem tem fé como eu, por Deus, e escolhido pelo povo brasileiro”, afirmou ao tomar posse.

Bolsonaro tem dito várias vezes que foi um milagre ter sobrevivido à facada no abdômen sofrida durante um ato de campanha em 6 de setembro em Juiz de Fora (MG).

O presidente ainda leva uma bolsa de colostomia, que deve ser retirada ainda este mês.

A primeira reunião de seu gabinete será realizada na manhã desta quinta-feira.

– Terras indígenas, ONGs e LGBT na mira –

Bolsonaro, eleito em outubro com 57,8 milhões de votos (55%), multiplicou em seu primeiro dia de governo as iniciativas de ruptura em temas sociais.

Presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, e seu ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, em Brasília, em 2 de janeiro de 2019/AFP / EVARISTO SAO

 

Uma Medida Provisória para definir a estrutura e funções do Executivo dispôs confiar a demarcação das terras indígenas ao Ministério da Agricultura, colocou as organizações internacionais e ONGs sob a supervisão do governo e excluiu a população LGBT como beneficiária de políticas destinadas à promoção de direitos humanos.

O Ministério da Agricultura encarna os interesses do agronegócio, que frequentemente entram em confronto com organizações de trabalhadores rurais, com os indígenas e com grupos de proteção ambiental.

Até agora, a demarcação de terras indígenas estava a cargo da Funai (Fundação Nacional do Índio), vinculada ao Ministério da Justiça e que agora passa a ser subordinado ao da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

A organização ambientalista Greenpeace qualificou como extremamente preocupante uma decisão que põe em risco “os direitos originais dos povos indígenas e o futuro das florestas, pois são as áreas protegidas a forma mais eficiente de evitar o desmatamento”.

Até agora não houve iniciativas específicas para liberalizar a posse de armas, outra das bandeiras de campanha de Bolsonaro para enfrentar a criminalidade galopante.

– Ampliar a luta contra a corrupção –

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou, por sua vez, que a ampliação do combate à corrupção e a luta contra o crime organizado e contra os crimes violentos serão as prioridades de sua agenda.

“Não se combate a corrupção somente com investigações e condenações criminais eficazes. Elas são relevantes, pois não há combate eficaz à corrupção com impunidades e sem risco de punição para os criminosos”, disse Moro, que se destacou na Operação ‘Lava Jato’, que levou para a prisão dezenas de políticos e empresários de primeira grandeza, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).

AFP

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