Os bombeiros continuaram as buscas por sobreviventes na manhã deste sábado (26) em Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte, onde na sexta-feira o rompimento de uma barragem de contenção de resíduos da Vale deixou, até o momento, 11 mortos e 299 desaparecidos.
Um porta-voz dos bombeiros informou à tarde que todos os ocupantes de um ônibus em uma área de difícil acesso, onde tinham expectativas de encontrar pessoas com vida, estavam mortos.
“Só confirmamos óbitos”, disse o tenente Pedro Aihara, sem dar números.
Esse era um dos quatro pontos identificados anteriormente com possíveis sobreviventes. As buscas agora continuam em uma comunidade, um prédio e uma locomotiva.
A catástrofe aconteceu no início da tarde de sexta-feira no município de Brumadinho e sepultou boa parte das instalações do complexo mineiro Córrego do Feijão, da mineradora Vale.
O desespero toma conta de quem não sabe o paradeiro de familiares e de amigos.
“Tinha gente aqui, casas. Estou arrasada com esta tragédia”, disse à AFP Rosilene Aganetti, de 57 anos, apontando para o rio de lama que corre em uma região vizinha.
Imagens aéreas mostram casas destruídas, animais enlameados e veículos cobertos pela maré marrom, que também toma conta da vegetação nesta área.
O governador do estado, Romeu Zema, afirmou na sexta-feira à noite que as chances de encontrar sobreviventes eram “mínimas”.
O último balanço dava conta de 11 mortos e 299 desaparecidos, 166 deles funcionários da Vale. Foram resgatadas com vida 176 pessoas, e 23 delas estão hospitalizadas.
O dia amanheceu com sol em Brumadinho, mas durante a tarde houve pancadas de chuvas que podem atrapalhar as buscas.
– Vale na mira –
“Faremos o que estiver ao nosso alcance para atender as vítimas, minimizar danos, apurar os fatos, cobrar justiça e prevenir novas tragédias como a de Mariana e Brumadinho”, tuitou o presidente Jair Bolsonaro, que sobrevoou a região de helicóptero na manhã deste sábado.
Em novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, a 125 km de Brumadinho, que deixou 19 mortos e provocou uma enxurrada de resíduos que contaminou terras e rios ao longo do Rio Doce em Minas Gerais e Espírito Santo, até chegar ao mar.
Aquela barragem pertencia à Samarco, empresa controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP-Billiton.
O governo anunciou neste sábado a aplicação de uma primeira multa de R$ 250 milhões à Vale por crimes ambientais.
A secretaria estadual de Meio Ambiente também prepara outra multa, e a Justiça de Minas Gerais decretou o bloqueio de R$ 1 bilhão da Vale para ressarcir as vítimas.
Segundo o presidente da Vale, Fábio Schvartsman, a represa não era usada há três anos e era verificada regularmente.
“É incrível: três anos e dois meses depois de Mariana, outro acidente na mesma região e com as mesmas características. Podemos dizer que não houve nenhum avanço com relação às medidas de governo, nem às práticas empresariais”, disse à AFP o diretor de campanha do Greenpeace Brasil, Nilo d’Ávila.
“Que a tragédia de Brumadinho abra os olhos do governo. Meio ambiente não é zoeira de esquerda: é respeito à vida das pessoas e do planeta. O Governo deve regular e fiscalizar com mais energia sem demonizar quem disso se ocupa”, tuitou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
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