Um júri de Nova York declarou, nesta terça-feira (12), culpado de todas as acusações El Chapo Guzmán, um dos chefes do trafico mais famosos do mundo, após um enorme julgamento no qual o governo americano apresentou numerosas provas.
Após um julgamento de três meses e 35 horas de deliberações ao longo de seis dias, o júri considerou que Joaquín “Chapo” Guzmán, de 61 anos e considerado o maior narcotraficante do planeta após a morte do colombiano Pablo Escobar, é culpado dos 10 crimes de narcotráfico, posse de armas e lavagem de dinheiro dos quais foi acusado.
A lei americana assinala que pela gravidade das acusações, o ex-chefe do cartel de Sinaloa deve ser sentenciado à prisão perpétua obrigatória.
O juiz Brian Cogan fixou a sua sentença para 25 de junho, mas a defesa anunciou que apelará do veredicto.
Ao ouvir a decisão do júri, o ex-chefe do cartel de Sinaloa, olhou para sua jovem esposa Emma Coronel, mãe de suas gêmeas de sete anos, sorriu levemente para tranquilizá-la e colocou a mão direita no coração.
Coronel, de 29 anos, levantou o polegar, cruzou as mãos no peito e soprou um beijo antes que os oficiais de justiça retirassem El Chapo rapidamente da sala.
El Chapo “esperava este resultado”, disse seu advogado Bill Purpura em uma coletiva de imprensa sob a neve em frente ao tribunal do Brooklyn.
“É um homem forte. Para o bem ou para o mal. É um caro que nunca se dá por vencido”, acrescentou.
“Lutamos até o fim. Deixamos tudo no campo por Joaquín Guzmán”, mas “as provas eram uma avalanche”, afirmou outro de seus advogados, Jeffrey Lichtman.
– Grande vitória para o governo –
Nos próximos dias, El Chapo provavelmente será transferido para uma prisão no Colorado, ADX Florence, conhecida como “Alcatraz das Montanhas Rochosas” e considerada a prisão mais segura dos Estados Unidos.
Promotores, chefes da agência antidrogas DEA, do FBI e de outras agências federais destacaram em uma coletiva de imprensa em frente ao tribunal que a condenação de El Chapo é um grande “vitória” para o governo americano, que nunca conseguiu extraditar e processar Escobar, ex-líder do cartel de Medellín que morreu em uma operação policial em 1993.
El Chapo “é responsável por uma quantidade inimaginável de morte e destruição nos Estados Unidos e no México. Suas drogas destruíram muitas famílias americanas, apenas por cobiça (…) Esta é uma tremenda vitória”, disse Uttam Dhillon, diretor interino da DEA.
No entanto, apesar da captura e condenação de El Chapo, o cartel de Sinaloa segue de pé, seu coacusado Ismael “Mayo” Zambada continua fugitivo e a violência do narcotráfico não cessa no México, que teve um recorde de 33.341 homicídios dolosos no ano passado.
Nos Estados Unidos, onde o uso de opiáceos se tornou uma epidemia, as mortes por overdose de drogas continuam subindo e atingiram uma média de 197 por dia em 2017.
– Melhor que uma novela –
O julgamento de El Chapo foi uma viagem a um dos maiores e mais impiedosos cartéis de drogas e à vida cotidiana do chefe na clandestinidade nas serras de Sinaloa, seu estado natal, um drama com um elenco impressionante: seus próprios protagonistas.
A Promotoria convocou ao processo 56 testemunhas, desde ex-sócios de El Chapo a agentes do FBI, da DEA e de outras agências do governo, bem como funcionários de vários países latino-americanos.
O júri ouviu conversas de El Chapo com seus sócios gravadas por delatores escondidos e outras interceptadas pelo governo, e leu dezenas de suas mensagens de texto criptografadas, assim como cartas que enviou ao seu braço direito da prisão. Também viu tijolos de cocaína, granadas, lançadores de granadas e fuzis de assalto apreendidos ou destinados ao chefe.
Mas, sobretudo, ouviu inúmeros relatos da vida e obra de El Chapo contadas por 14 de seus ex-sócios: secretários, motoristas, um pistoleiro, um gerente, um contador, seus maiores fornecedores de cocaína na Colômbia, o maior traficante nos Estados Unidos, o seu chefe de comunicações e até uma ex-amante que fugiu com ele nu por um túnel.
Estas testemunhas relataram como o chefe comprava toneladas de cocaína na Colômbia a 3.000 dólares o quilo, e transportava ao México em submarinos semi-submersíveis, aeronaves, barcos de pesca ou contêineres comerciais, às vezes com escalas em Equador, Guatemala, Belize, República Dominicana ou Honduras.
E como a droga chegava finalmente aos Estados Unidos por túneis, escondida em latas de pimentas em trens, em caminhões de gasolina ou compartimentos secretos em automóveis, era revendida por até 35.000 o quilo.
Tudo graças à cumplicidade de funcionários corruptos do México que receberam milhões em propinas, incluindo supostos ex-presidentes.
AFP
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