Poeira chega a cobrir um território maior que Estados Unidos e Canadá juntos e tem efeitos no clima e na saúde das pessoas.
Uma gigantesca mancha opaca encobre há dias parte do Oceano Atlântico. Nas imagens capturadas por satélites, uma nuvem marrom que vai da África até o Caribe cobre os tradicionais azul e branco vistos por satélite.
Esse é um sinal inequívoco de que uma nuvem de ar do Saara — uma massa de ar muito seco e com poeira do deserto africano — se move em direção às Américas. Alguns especialistas chamam ela de “nuvem de poeira Godzilla”. Se trata de um fenômeno recorrente a cada ano, mas que parece ter se intensificado em 2020.
No Caribe, os efeitos já são sentidos. Em vários países existe a recomendação para que os cidadãos usem máscaras e evitem atividades ao ar livre, dada a alta concentração de partículas no ar.
Navios também foram advertidos sobre a baixa visibilidade para navegação.
De acordo com Olga Mayol, especialista do Instituto de Estudos de Ecossistemas Tropicais da Universidade de Porto Rico, a atual nuvem tem uma concentração mais alta de partículas de poeira observadas na região em comparação com os últimos 50 anos.
O fenômeno começou a ser observado em uma área do oeste da África há uma semana e agora já percorreu mais de 5 mil km pelo mar até o Caribe, passando por terra em partes dos continentes americanos, como a Venezuela.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) prevê que a coluna de poeira do Saara continuará se movendo rumo ao oeste pelo Mar do Caribe, alcançando áreas do norte da América do Sul, América Central e da Costa do Golfo dos Estados Unidos nos próximos dias.
Vários países da área registraram a presença da poeira do Saara e usuários das redes sociais compartilharam imagens de paisagens alteradas pela nuvem, algumas com intensas cores diferentes no amanhecer e no entardecer.
De que se trata?
Essa massa de ar seco e carregada de partículas de areia se forma sobre o deserto do Saara no final da primavera, no verão e no começo do outono no Hemisfério Norte, e geralmente se desloca em direção ao Oeste sobre o Oceano Atlântico a cada três ou cinco dias.
Quando ocorre, costuma ser de curta duração, não superior a uma semana. Porém a presença de ventos suaves em certas épocas do ano a tornam mais propensa a cruzar o Atlântico e percorrer mais de dez mil quilômetros.
Com que frequência ocorre?
A chegada à América da nuvem de poeira do Saara não é incomum e ocorre várias vezes ao ano. No entanto, segundo os meteorologistas, a nuvem atual é uma das mais densas em meio século.
Tradicionalmente, a atividade da camada de ar do Saara aumenta em meados de junho, alcançando seu ponto máximo do final deste mês até meados de agosto, quando começa a diminuir rapidamente.
De acordo com a NOAA, a cada ano, mais de cem milhões de toneladas de poeira saariana sopram da África — e algumas partículas já chegaram até o Rio Amazonas.
A camada geralmente tem entre três e cinco quilômetros de espessura, e e encontra a uma altura de um a dois quilômetros na atmosfera.
Quais são seus efeitos?
Como todo fenômeno natural, as nuvens de poeira contribuem de diversas formas para os ciclos da natureza no planeta.
Em primeiro lugar, o calor da camada ajuda a estabilizar a atmosfera quando o ar quente da nuvem passa por cima de ares mais frios e densos.
A poeira mineral absorve luz solar, o que contribui para regular a temperatura do planeta.
Os minerais contidos na poeira também repõem nutrientes nos solos das zonas tropicais, que são afetados por chuvas.
Alguns dos químicos podem ajudar a vida nos oceanos. Mas especialistas também alertaram para a presença de alguns elementos tóxicos que podem ser nocivos para algumas espécies, como os corais.
Segundo a NOAA, o calor, a secura e os fortes ventos associados a esta camada de ar saariana suprimem também a formação e intensificação de ciclones e furacões.
O Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos projetou para 2020 uma temporada mais intensa do que o habitual, mas se nuvens como essas se formarem nos próximos meses elas podem contribuir para que os furacões sejam enfraquecidos.
Quais são as implicações disso para saúde humana?
A qualidade do ar é consideravelmente afetada e isso pode ter impacto sobre a saúde humana.
O ar seco e empoeirado tem aproximadamente 50% menos umidade do que a atmosfera tropical típica, o que pode afetar a pele e os pulmões.
O alto teor de partículas também pode ser nocivo para pessoas com problemas respiratórios, causando alergias e irritações nos olhos.
No contexto atual, com a epidemia do coronavírus, as autoridades sanitárias de alguns países têm alertado sobre o risco extra da nuvem de poeira para pessoas com problemas respiratórios.
No domingo, o departamento de Saúde de Porto Rico alertou que pessoas com asma, problemas respiratórios e alergias, assim como aqueles que foram contaminados com covid-19, deveriam tomar medidas extras de cautela e proteção.
BBC – G1
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