Ao longo de 17 anos, a 32ª Delegacia de Polícia do Rio manteve aberto um inquérito para investigar a morte do estudante Anderson Rosa de Souza, de 29 anos, em dia 15 de maio de 2003. O tenente Adriano Nóbrega e o sargento Fabrício Queiroz, ambos à época do 18º Batalhão da PM, registraram o caso como “homicídio proveniente de auto de resistência”, dizendo que revidaram um ataque a tiros ao entrar na Cidade de Deus. O Ministério Público do Rio (MP-RJ) verificou uma série de falhas na investigação durante quase duas décadas: ausência de exame nos fuzis usados na operação, de perícia de resíduos nas mãos do cadáver e de depoimentos de familiares da vítima, entre outros. As únicas providências tomadas foram três depoimentos de Queiroz e de Adriano. Agora, o MP quer a retomadas das investigações.
O promotor Cláudio Calo Sousa, que assumiu a 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial em março, determinou uma série de diligências para a retomada do caso, no último dia 3. O novo prazo para conclusão das investigações é de 90 dias. Em documento enviado para a 32ª DP, ao qual o EXTRA teve acesso, o promotor escreveu que “causa perplexidade o porquê tais fuzis não foram efetivamente periciados” e também “estranheza” a falta de juntada dos folhas de antecedentes criminais (FAC) dos policiais. Quando o inquérito foi instaurado, um ano após a morte, apenas a FAC de Anderson Rosa de Souza foi anexada aos autos. O estudante não tinha qualquer anotação criminal.
O caso que deverá ser retomado agora ocorreu na madrugada do dia 15 de maio de 2003 — quatro anos antes de Queiroz se tornar assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na na Alerj. Ele agora é investigado junto com Flávio no caso das rachadinhas. No mês passado, Queiroz teve a prisão preventiva decretada, mas na semana passada obteve um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que permitiu que ele fique em prisão domiciliar. Já Adriano morreu em fevereiro após uma operação policial na Bahia. Ontem, a Polícia da Bahia fez a reconstituição da ação. Ele era apontado como o líder do Escritório do Crime, milícia que atua na região de Rio das Pedras.
Na versão dos policiais, a patrulha ingressou na Cidade de Deus e teria “encontrado um grupo de pessoas supostamente armado” que teria “efetuado disparos ”, o que fez com que os policiais revidassem. Depois do alegado confronto, os policiais disseram ter encontrado o corpo de Rosa junto a uma “bolsa preta”.
Apesar de terem declarado que ocorreu um tiroteio, Queiroz e Adriano disseram que só eles dois atiraram, os outros três policiais não. Queiroz e Adriano levaram o corpo do estudante para o Hospital Cardoso Fontes. Ele deu entrada na unidade já sem vida.
O laudo cadavérico de Souza revela contradições na versão dos policiais. Ele morreu com três tiros, dois deles efetuados pelas costas.
Ao “Fantástico”, da TV Globo, a viúva de Anderson Rosa de Souza disse que ouviu que o marido teria implorado por sua vida.
— Contaram que eles entraram, levaram ele lá pra trás, tiraram a vida dele, né? Ele pedia pelo amor de Deus, mas não teve jeito, executaram, ele com três tiros — afirmou ela. Procurado, o advogado Paulo Emílio Catta Preta, que defende Queiroz , não retornou.
Globo-Extra
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