A comitiva brasileira não realizou nenhum encontro bilateral relevante, o que demonstra o isolamento do país. Ele destacou a fala do presidente em defesa do chamado “tratamento precoce” contra a covid-19, abordagem não recomendada pelos organismos internacionais e abandonada na maioria dos países
No cenário internacional, não há mais quem ainda dê crédito às declarações do presidente Jair Bolsonaro. A observação cabe ao cientista político Vitor Marchetti, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC). Em seu discurso durante a abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, Bolsonaro reproduziu discurso voltado aos seus apoiadores mais radicais, segundo o analista.
Discurso na Assembleia Geral da ONU é convertido em palanque da mentira
Além disso, a comitiva brasileira não realizou nenhum encontro bilateral relevante, o que demonstra o isolamento do país. Ele destacou a fala do presidente em defesa do chamado “tratamento precoce” contra a covid-19, abordagem não recomendada pelos organismos internacionais e abandonada na maioria dos países. Na outra ponta, vendeu dados e informações insustentáveis sobre temas como preservação ambiental e proteção aos povos indígenas.
— Do ponto de vista internacional, Bolsonaro disse que estava resgatando a credibilidade do país. Quando, no fundo, estava reforçando a falta ou perda total de credibilidade — disse Marchetti à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA).
Infectado
Essa falta de credibilidade, no entanto, inviabiliza até mesmo a “agenda perversa” de privatizações anunciada por Bolsonaro.
— Esse comportamento do presidente também compromete esse tipo de agenda, porque produz incerteza nos atores econômicos — ressalta Marchetti.
Outro ponto destacado pelo analista foi a posição de Bolsonaro contra a vacinação obrigatória. Além disso, ele tem pressionado o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pela desobrigação também do uso de máscaras. Ironicamente, o próprio ministro foi contaminado durante a viagem a Nova York.
Marchetti destacou, ainda, que Queiroga não conseguiu convencer nem mesmo os integrantes da comitiva sobre o uso do equipamento de segurança.
‘Ciclo tenebroso’
Contudo, apesar das dificuldades criadas em torno do Plano Nacional de Imunizações – o último caso foi a orientação para suspender a vacinação em adolescentes – a população brasileira tem aderido amplamente às vacinas.
— A influência que tem a fala de um presidente é enorme, mas Bolsonaro caiu num descrédito total que hoje a gente tem um número de vacinados que chama a atenção, apesar de todo esse cenário de contrariedade e de propaganda negativa — disse Marchetti.
Sem qualquer tipo de apoio externo, e com a sua base restrita ao bolsonarismo mais radical, o analista acredita que tal cenário aponta para o fim desse “ciclo tenebroso” representado pelo governo Bolsonaro.
Fonte: Correio do Brasil
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