POR JOSÉ RICARDO RORIZ COELHO*
O PICPlast (Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico) – parceria entre a ABIPLAST e a Braskem – divulgou no final do ano passado, na semana de celebração do Dia do Reciclador e da Reciclagem do Lixo (22 de novembro), um novo estudo sobre reciclagem mecânica de resíduos plásticos. A pesquisa oferece boas perspectivas e enormes desafios sobre o tema no Brasil.
Antes de analisar os dados, no entanto, vale destacar que o estudo tem dados auditáveis e já está em seu terceiro ano. Mais do que essencial, entender e acompanhar a cadeia da reciclagem do país, além de conhecer a realidade de catadores, recicladores, gestores de resíduos, enfim, de todos os profissionais envolvidos no segmento, é uma missão e um compromisso do setor plástico e da ABIPLAST. E também do SINDIPLAST, que conta com o mesmo corpo técnico da associação e atua desde 1941 promovendo inúmeras ações para o crescimento e a competitividade do setor no estado de São Paulo. O sindicato representa hoje mais de 5 mil empresas que empregam quase 150 mil pessoas.
O grande destaque de 2020 é a expansão de 5,8% no volume de resíduo consumido, na comparação ao estudo referente ao ano de 2019. O montante de resíduo plástico consumido pelas recicladoras atingiu 1,4 milhão de toneladas naquele ano, o primeiro da pandemia. A necessidade do isolamento social afetou o trabalho de coleta e triagem de resíduos pós-consumo e trouxe impactos importantes para os resultados finais da reciclagem.
Outro dado que chama a atenção diz respeito ao EPS, mais conhecido como isopor®. As três pesquisas revelaram um alto índice de reciclagem do material, na casa dos 31%. O EPS é muito utilizado na proteção das entregas de aparelhos domésticos, como televisores e geladeiras, e para isolamento térmico no transporte de alimentos e medicamentos (vacinas, por exemplo).
Justamente com o intuito de conscientizar sobre a reciclagem do EPS e do XPS, a ABIPLAST, com o apoio do SINDIPLAST, está à frente da gestão do Programa Isopor® Amigo. Idealizado por um grupo de fabricantes de descartáveis, recicladores, indústria petroquímica e sindicato, começou como projeto piloto em Joinville (SC) e agora está em expansão, com novas parcerias.
Agora, os desafios. O estudo do PICPlast aponta que 23,1% dos resíduos plásticos pós-consumo no Brasil foram reciclados, um pouco abaixo do número de 2019 (24%), mas superior ao de 2018 (22,1%). A pequena variação ao longo do triênio indica estabilidade, mas outro número escancara uma questão central para a melhoria da reciclagem no Brasil: a gestão de resíduos sólidos urbanos.
Do montante total de materiais plásticos produzidos com ciclo de vida de até 1 ano, apenas 27% é coletado e entra na cadeia de reciclagem. Esse é o primeiro gargalo. Desatar esse nó passa pelo aprimoramento da gestão de resíduos no país. Para efeito de comparação, segundo dados de 2018 da Plastics Europe, houve um acréscimo na taxa média de reciclagem na Europa em relação a 2016, em particular graças à melhora da coleta de resíduos.
Aprovado em julho de 2020, o Marco Legal do Saneamento Básico já está impulsionando e movimentando novos atores sobre a gestão de resíduos. Com a possibilidade de que municípios façam consórcios e que empresas privadas entrem no negócio de gestão de resíduos, há estimativas de investimentos de R$ 15 bilhões em dez anos.
Olhando para este horizonte, a ABIPLAST e ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) firmaram parceria com objetivo de oferecer alternativas para a melhoria de políticas de gestão de resíduos, iniciativa que tem o apoio do SINDIPLAST. São novos modelos de negócios para gestão de resíduos sólidos urbanos, buscando eficiência no reaproveitamento de resíduos para reciclagem, envolvendo atores públicos e privados.
O convênio realizou estudo de caso em três municípios da Grande SP – Barueri, Guarulhos e Cajamar – que contemplam a maioria das características de gestão de resíduos encontradas no Brasil. As três cidades, que possuem realidades distintas entre elas na gestão de RSU, foram cenários para os modelos de negócios propostos, sendo replicáveis para outras cidades com particularidades semelhantes. Cases e benchmarks internacionais também foram examinados, com o objetivo de olhar para soluções de gestão de resíduos e logística reversa em outros países, como inspiração ao cenário brasileiro.
Projeções iniciais estimam que, até 2040, haja a recuperação de 33 milhões de toneladas em resíduos de plástico, a redução de quase 600 milhões de toneladas de resíduos enviadas a aterros sanitários, além da criação de quase 500 mil empregos de catadores/cooperados e a multiplicação de empresas recicladoras (de 4 mil para 10 mil), uma vez atingidas as metas de logística reversa.
É fundamental que haja uma mudança sistêmica na gestão de resíduos no país, para que a responsabilidade não pese somente sobre o poder público. O setor privado pode – e deve – trazer a sua expertise em fazer negócio, para que toda a cadeia de gestão de resíduos seja incrementada.
Outro ponto que pode gerar impacto é o redesign, que otimiza os materiais e estruturas, possibilitando aumento no volume de resíduo destinado para a reciclagem. Dentro desse tema, a ABIPLAST mobilizou a REDE (Rede Pela Circularidade do Plástico), criada em 2018 e que hoje conta com mais de 60 empresas membros – entre brand owners, recicladores de material plástico, fabricantes de embalagens plásticas, varejistas, cooperativas de material reciclável, gestores de resíduo e petroquímicas. O grupo trabalha em projetos para aumentar a reciclabilidade das embalagens plásticas e a disponibilidade de resíduos plásticos para a reciclagem.
No mesmo sentido, a REDE criou a “Retorna”, ferramenta que avalia a reciclabilidade das embalagens, na lógica do selo de eficiência energética dos produtos de linha branca. No momento, o projeto está sendo realizado entre empresas (B2B), mas, no futuro, há a ideia de se expandir até a ponta final, o consumidor.
Por fim, a ABIPLAST apoiou e encampou em sua agenda de trabalho um Projeto de Lei aprovado no Congresso. De autoria do deputado Carlos Gomes e relatoria do senador Luis Carlos Heinze, o PL estabelece incentivos à indústria de reciclagem. A associação manteve e mantém canal aberto com parlamentares, técnicos e autoridades do governo federal, para compartilhar informações técnicas do setor e mostrar os impactos positivos do projeto, tanto para o progresso da cadeia produtiva da reciclagem como para o desenvolvimento de novas tecnologias e para a geração de empregos no Brasil.
Em caminho paralelo, o SINDIPLAST tem atuado de maneira proativa em relação às questões conjunturais e estruturais reivindicando medidas que atendam às necessidades do setor com foco em modelos de negócios que tragam resultados positivos para suas empresas. Uma dessas frentes de ação, por exemplo, está no protagonismo junto aos órgãos governamentais e outras instituições na garantia e defesa dos direitos das indústrias de transformados e de reciclagem de plástico no estado de São Paulo, levando conhecimento técnico acerca do plástico, os desafios e as oportunidades. Além disso, o SINDIPLAST, com o intuito de contribuir para a disseminação dessas informações acerca dos materiais plásticos, promove ações em parceria com instituições de ensino e entidades setoriais.
O momento é de seguir em frente. Projetos como os mencionados acima reafirmam o propósito da ABIPLAST e do SINDIPLAST em trabalhar em conjunto, para que soluções possíveis sejam criadas. Questões complexas pedem saídas criativas e convergentes. Não existe fim definitivo em um mundo cada vez mais desafiador, repleto de variáveis, mudanças rápidas e repentinas. O mesmo vale para a questão da reciclagem. A ABIPLAST está ciente de sua atuação e reitera o compromisso com o debate amplo, para que, juntos, possamos desenvolver a cadeia da reciclagem e o conceito da economia circular.
*JOSÉ RICARDO RORIZ COELHO é presidente da ABIPLAST – Associação Brasileira da Indústria do Plástico – e do SINDIPLAST – Sindicato da Indústria de Material Plástico, Transformação e Reciclagem de Material Plástico do Estado São Paulo.
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