Presidente comentou reunião citada por Moro como prova de suposta interferência na PF. Ele disse que não mencionou na reunião as expressões ‘Polícia Federal’ e ‘superintendência’.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (12) que a gravação da reunião ministerial de 22 de abril deveria ter sido destruída.
O presidente falou sobre o assunto na tarde desta terça, na rampa do Palácio do Planalto, onde conversou com jornalistas. Segundo Bolsonaro, o “vazador” do vídeo está “prestando desserviço”, e a imprensa está divulgando “fake news” sobre o assunto.
Bolsonaro se refere ao vídeo mencionado pelo ex-ministro Sergio Moro como prova de que o presidente da República teria tentado interferir na Polícia Federal. Um inquérito aberto pelo ministro Celso de Mello, no Supremo Tribunal Federal (STF), apura essa suposta interferência.
O vídeo foi exibido nesta terça a Moro, à Procuradoria Geral da República e à Polícia Federal. Fontes ouvidas pela TV Globo disseram que, no vídeo, Bolsonaro afirmou que a família era perseguida e que por isso iria trocar o comando da PF. O presidente também teria usado palavrões e feito ameaças.
“Em reunião ministerial, sai muita coisa. Agora, não é para ser divulgada. A fita era para ser destruída – após aproveitar imagens para divulgação, ser destruída. Não sei por que não foi. [Inaudível] Poderia ter falado isso [que a fita foi destruída]? Poderia. Mas jamais eu ia faltar com a verdade. Por isso, resolvi entregar a fita. Se eu tivesse falado que foi destruída, iam fazer o quê? Nada. Não tinha o que falar”, afirmou Bolsonaro nesta terça.
“Esse vazador está prestando desserviço. Não existe no vídeo a palavra ‘Polícia Federal’ nem ‘superintendência’. Não existem as palavras ‘superintendente’ nem ‘Polícia Federal'”, disse o presidente.
Bolsonaro ainda disse, sem mencionar nomes, que o “vazador” do vídeo está “desinformando”. “O que a mídia tá divulgando agora é um fake news. Um informante, ou vazador, está desinformando”, declarou.
Depois, na entrada do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse aceitar a retirada do sigilo do processo que tramita no Supremo Tribunal Federal.
Depoimento dos ministros
Na sequência da conversa com os jornalistas, o presidente foi questionado sobre a expectativa em relação à apresentação do vídeo e do depoimento dos ministros.
Prestaram depoimento os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Braga Netto (Casa Civil). Os depoimentos foram feitos no Palácio do Planalto.
“Sem problema, nenhum. Eu não escondo nada de ninguém. A ‘expectativa’? Olha, o depoimento do Moro, com todo respeito, quem leu e leu com isenção viu que não tem acusação nenhuma. O do Valeixo, a mesma coisa. Esse vídeo agora é a última cartada midiática usando da falácia e da mentira para tentar achar que eu tentei interferir na PF. Pelo amor de Deus”, disse Bolsonaro.
Valeixo, a quem Bolsonaro se refere, é Maurício Valeixo, ex-diretor-geral da PF. Escolhido por Moro para o cargo, Valeixo foi demitido por Bolsonaro em 24 de abril.
O episódio levou Moro a pedir demissão porque, no entendimento do então ministro, a troca no comando da PF configurou interferência política, o que Bolsonaro nega ter cometido.
Rio de Janeiro
Ao anunciar a demissão do cargo, Moro mencionou as vezes em que Bolsonaro tentou mudar o comando da PF no Rio de Janeiro. Em depoimento, o ex-ministro disse que Bolsonaro afirmou a ele: “Você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma“.
Questionado sobre o tema nesta terça, Bolsonaro afirmou: “Eu falo em Rio de janeiro, é o meu estado. É onde tenho um filho lá. Todos os meus filhos têm segurança do GSI. Todos, sem exceção”.
O Gabinete de Segurança Institucional, com status de ministério, é vinculado à Presidência da República. A Polícia Federal, por sua vez, é vinculada ao Ministério da Justiça.
Depoimento
Também nesta terça, Bolsonaro disse que o depoimento dele sobre o caso “vai ser depois”.
“Não vou entrar em detalhe contigo. O meu depoimento vai ser depois, vai ser depois. Eu não vou adiantar o que eu vou falar. Assunto de hoje: não existe a palavra ‘Polícia Federal’ nem ‘superintendência'”, completou.
Gustavo Garcia e Paloma Rodrigues – G1
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