O cacique Raoni Metuktire, figura emblemática da luta contra o desmatamento da Amazônia, afirmou nesta quarta-feira (25) que o presidente Jair Bolsonaro “tem que sair, para o bem de todos”, após ter sido alvo de críticas que geraram indignação em associações de indígenas do país.
“Bolsonaro falou que eu não sou uma liderança, e é ele que não é uma liderança e tem que sair. Antes que algo muito ruim aconteça, ele tem que sair, para o bem de todos”, disse o líder kayapó durante conferência no hall principal do Congresso Nacional, onde foi recebido pelos deputados opositores aos gritos de “Raoni sim, Bolsonaro não”.
“Minha fala é para o bem viver, minha fala é tranquila e não ofendo ninguém, que todo mundo viva com saúde, com tranquilidade (…) A minha luta é pela preservação do meio ambiente. Todo mundo hoje está com os olhos voltados para a destruição do meio ambiente”, acrescentou Raoni, falando em dialeto kayapó, traduzido ao português por sua neta, Maial Kayapó.
Na véspera, ao discursar na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, Bolsonaro questionou que Raoni fosse um líder representativo dos povos indígenas brasileiros e disse que há governos estrangeiros que usam figuras como ele “para avançar seus interesses econômicos na Amazônia”.
“Acabou o monopólio de Raoni”, afirmou o presidente, que defende a exploração comercial de áreas de preservação ambiental e terras indígenas, e recebeu críticas dentro e fora do Brasil devido ao aumento do desmatamento e às queimadas na Amazônia durante sua gestão.
As declarações de Bolsonaro foram repudiadas com veemência por outros líderes indígenas.
Para Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Coalizão de Povos Indígenas do Brasil (APIB), que representa 305 etnias, Bolsonaro trata os povos autóctones brasileiros como homens das cavernas e é desrespeitoso com seu líder, o cacique Raoni.
A Coordenação de Organizações Indígenas da Amazônia (Coiab), que integra a APIB, qualificou em um comunicado as palavras do presidente como um ataque racista e genocida.
Prestes a completar 90 anos, Raoni foi proposto como candidato ao prêmio Nobel da Paz pela fundação brasileira Darcy Ribeiro.
O líder indígena se tornou uma celebridade mundial nos anos 1980, aparecendo com frequência ao lado do cantor britânico Sting, e desde então continua fazendo viagens internacionais em defesa da Amazônia.
AFP
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