Brasil

Com pico de internações e novas variantes, governo de SP deve endurecer quarentena

Araraquara, que já estava em lockdown, endureceu as regras por 60 horas Foto: Código 19/ Luciano Claudino / Agência O Globo

Centro de Contingência teme que novos casos sejam mais graves e permaneçam por mais tempo na UTI

SÃO PAULO — Em meio ao avanço das novas variantes do coronavírus no estado e ao ao aumento de internações por Covid-19, o governo de São Paulo deverá adotar novas medidas de endurecimento da quarentena na quarta-feira. O Centro de Contingência fez recomendações de políticas de restrição de movimentação que poderão entrar em vigor a partir de sexta-feira. Nesta segunda, estado atingiu o pico de internações desde o início da pandemia, segundo o governo paulista. O maior número registrado até então era de julho de 2020.

Segundo o coordenador-executivo do Centro de Contingência, João Gabbardo, o grupo apresentou novas regras de flexibilização da atividade econômica para o Plano SP. As medidas seriam no sentido de endurecer a quarentena.

— São recomendações que obviamente vão tratar de redução da mobilidade, da movimentação das pessoas, que é o que a gente pode fazer nesse momento para reduzir essa taxa de transmissibilidade. Sendo variante ou não, a forma de reduzir a transmissão é a mesma: diminuir a possibilidade  de contato entre as pessoas — afirmou.

De acordo com ele, apesar de certa estabilização no número de novas internações, o número de pessoas internadas continua em ascensão.

 

— Isso pode significar que, mesmo que não tenha ocorrido um aumento tão significativo de novos casos na UTI, a permanência desses pacientes na UTI tem sido maior. Por isso que temos um número de pacientes internados bem acima da expectativa de quando analisamos os dados de novas internações — afirmou Gabbardo.

O secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, lembrou que o número atual de internados ultrapassou o registrado em julho do ano passado, pico da pandemia.

— Temos às 13h de hoje 6.410 pacientes internados em UTIs. É importante lembrar que nós tínhamos, em julho de 2020, na primeira onda, a maior ocupação de leitos, atingindo 6.257. Portanto, ultrapassamos o maior número da história da pandemia em São Paulo — ressaltou Gorinchteyn.

Os dados apresentados hoje pelo governo paulista apontam uma queda de 9,5% no número de novos casos nesta semana em relação a anterior. Foram 9.275 casos contra 8.573. No entanto,  o número internados sofreu um salto de de 5,5%. Na semana anterior eram 1.457 novos hospitalizados e, nesta, 1.538.

Aumento exponencial

Uma análise da Info Tracker, ferramenta desenvolvida por cientistas de dados da USP e da Unesp para monitorar o avanço da pandemia em 92 municípios de SP, chama atenção para um exponencial crescimento de internados no estado. Segundo um dos desenvolvedores da plataforma, Wallace Casaca, a situação na Grande SP está mais crítica em Santo André, Osasco e na própria capital paulista. Só na região metropolitana observou-se um salto de 5% no número de internados de uma semana para a outra.

Em Santo André, no ABC Paulista, o aumento geral de internações foi de 31% nesta semana em relação à anterior. Em Osasco, o salto observado foi de 28%. Os dados preocupam principalmente porque podem estar relacionados à circulação das novas variantes.

—  O aumento exponencial (nessas cidades) é muito agressivo. Ele pode dobrar ou triplicar a curva (de internados) em questão de dias, por isso é tão perigoso. Esse aumento começou a ser observado na semana passada. A gente teve um primeiro pico no início do ano por conta das festas e, depois disso, começou a descer. Já no começo da semana passada, teve uma inflexão e voltou a aumentar  —  explica Casaca.

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Casaca chama atenção, por exemplo, para as internações no Hospital Municipal da Brasilândia, Zona Norte da capital, onde o aumento nos últimos sete dias foi de 13%, passando de 239 para 270. O complexo é um dos maiores da cidade em atendimento a pacientes com Covid-19, ficando atrás somente do Hospital das Clínicas, da USP, que atualmente tem 261 hospitalizados com o novo coronavírus.

— Araraquara (interior de SP), em questão de dias, dobrou a curva de internados. No começo de fevereiro, tinha cerca de 60 internados e, no dia 19, data do pico, foram 113. Quase dobrou em apenas 20 dias — lembra.

Araraquara

Araraquara, no interior do estado, é um dos exemplos de cidades que vêm enfrentando dificuldades para conter a Covid-19. No último domingo, com UTIs lotadas, a cidade entrou em lockdown. Até meia-noite de terça-feira, as pessoas só poderão sair de casa para buscar atendimento médico, comprar medicamentos ou trabalhar em serviços essenciais. Supermercados só podem funcionar com entregas domiciliares. Postos de combustíveis, restaurantes, bares e demais estabelecimentos comerciais permanecerão fechados. Os ônibus de transporte público não irão circular.

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O município de Araraquara tem 12 casos confirmados da nova variante do coronavírus, conhecida como variante brasileira, detectada pela primeira vez em Manaus. Acidade já havia adotado um lockdown mais brando, mas não foi suficiente. Segundo a Prefeitura de Araraquara, durante todo o ano de 2020 o município registrou 92 mortes por Covid-19. Este ano, em apenas 45 dias, foram 75 óbitos pela doença.

Por Ana Leticia Leão e Dimitrius Dantas

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