Em evento com catadores, Lula diz que uso de paralelepípedos e ferros sob viadutos não tem ‘sentido humanista’

Nesta semana, Bolsonaro vetou projeto de lei que impede instalação de estruturas para afastar pessoas em situação de rua. Petista não citou texto.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou nesta quinta-feira (15) do “Natal dos Catadores”, que é organizado pela Associação Nacional dos Catadores em São Paulo. Lula mantém a tradição de se encontrar com a categoria há 19 anos, desde 2003.

Durante seu discurso, Lula se comprometeu com o Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, que irá se encontrar com os moradores em situação de rua na capital paulista assim que tomar posse na Presidência.

“Padre, vamos ter que discutir como a gente dá legitimidade para os moradores de rua. Eu não sei se a prefeitura, em algum momento, teve a capacidade de pelo menos pesquisar e estudar a vida de cada mulher, homem, para saber porque foi para a rua. Faltando 15 dias para assumir a presidência, é um compromisso que vamos dar uma vida decente para o morador de rua que fica abandonado pelo viaduto de SP. Cuidar do pobre tem que ter muito coração”.

“Agora, estão colocando paralelepípedos embaixo da ponte, criando obstáculos embaixo da ponte, colocando coisa de ferro embaixo da ponte para não ter espaço para vocês dormirem. Não é que eles não cuidam. É que eles não querem nem que vocês tenham direito de deitar embaixo da ponte. Não tem nenhum significado, nenhum sentido humanista, não tem nenhum sentido de paixão, de amor, não tem nenhum sentido de compreensão só porque vocês vivem nesse país. Estou aqui, padre Júlio, que você vai ter um compromisso meu. Prepare uma boa pauta de reivindicação”.

Lula ainda ressaltou que vai mudar “o decreto que tiver que mudar”, mas não disse se vai defender a derrubada do veto.

Nesta terça-feira (13), o presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou integralmente o projeto de Lei que visa barrar construções feitas para afastar pessoas do espaço público, como espetos pontiagudos instalados em fachadas comerciais, pavimentação irregular, pedras ásperas, jatos de água, cercas eletrificadas ou de arame farpado e muros com cacos de vidro.

No Congresso Nacional o projeto ficou conhecido como ‘Lei Padre Júlio’ por conta da atuação do religioso, que já quebrou a marretadas pedras instaladas em áreas públicas da capital para afastar a população em situação de rua.

Representantes dos catadores e população de rua também discursaram sobre as categorias e fizeram pedidos para o presidente eleito, entre eles a criação da Secretaria Nacional de População de Rua. Em seguida, foram entregues o selo chamado ‘amigos dos catadores’.

“Estamos cansados de sermos tratados como lixo, apanhando da Guarda Civil Metropolitana, da limpeza urbana. São poucos os moradores de rua aqui dentro, eles estão no viaduto. Ninguém quer saber dos mais pobres. A aporofobia está matando o povo. Estou esperando que o Congresso Nacional derrube o veto do Bolsonaro sobre as intervenções na arquitetura hostil”, disse o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo,

Natal dos Catadores em São Paulo — Foto: TV Globo

Na última segunda, em protesto contra a aporofobia, o religioso reuniu voluntários para remover pedras colocadas na entrada de uma biblioteca pública na Zona Leste.

O tema mobiliza a igreja católica. Em 2021, o Papa Francisco denunciou a chamada “arquitetura hostil” contra os mais pobres.

Encontro com catadores

O encontro desta quinta começou por volta das 10h e também tem a participação de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, o futuro ministro da Economia, Fernando Haddad, Marta Suplicy, o deputado eleito Eduardo Suplicy.

Além de catadores brasileiros, integrantes da categoria do Chile, Argentina, Colômbia e Panamá estão presentes.

Antes do discurso de Lula, o futuro Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enfatizou sobre a missão dada por Lula quando for ministro.

“Nessa campanha o presidente Lula fez outra promessa: ‘Haddad, Ministro da Fazenda tem que ter a única preocupação, que é colocar o pobre no orçamento e rico no Imposto de Renda’. Ele me convidou nessa tarefa. Vamos ter um país mais justo, que precisamos. Todo mundo precisa de uma oportunidade na vida”.