A troca de mensagens entre as duas, que são primas, foi recuperada no celular da professora pela Polícia Civil. A conversa consta no inquérito que apura o crime de homicídio duplamente qualificado, por emprego de tortura e sem oportunidade de defesa da vítima, e foi obtida com exclusividade por ÉPOCA.
Às 18h59 do dia 10 de março, a pediatra pergunta a Monique sobre o laudo complementar da necropsia feito no corpo de Henry. O documento aponta hemorragia interna e laceração hepática, provocada por ação contundente, além de equimoses, hematomas, edemas e contusões. A professora então explica que o resultado do exame “detalhado” foi, segundo Jairinho, direto para a 16ª DP (Barra da Tijuca) e o casal ainda não teve conhecimento de seu conteúdo.
A prima então justifica: “Queria saber pois ele era tão bem cuidado. Eu não consigo imaginar o que pode ter acontecido”, tendo como resposta de Monique: “Estou até agora sem entender por que isso foi acontecer com meu menino”. A conversa aconteceu cerca de 60 horas depois que as médicas do Hospital Barra D’Or atestaram o óbito de Henry. Em depoimento, elas contaram que ele já chegou morto e com as lesões descritas na necropsia. Foi para a unidade de saúde que a criança foi levada pela mãe e pelo padrasto, às 4h09 de 8 de março, alegando que o haviam encontrado caído no chão do quarto, com mãos e pés gelados e olhos revirados.
No dia 16, foi a vez de Monique chamar a pediatra em um aplicativo de conversa no celular. Ela envia um documento por mensagem e em seguida diz: “Prima, me ajuda a entender. Consegui agora. Ele chegou morto prima?” A interlocutora então responde: “Sim. Foi feito de tudo e não voltou em nenhum momento” e pergunta se o advogado do casal já teve acesso ao tal laudo e a qual conclusão ele chegou. A professora então responde que foi “hemorragia mesmo”.
No diálogo, a pediatra pede a prima: “Quando você puder e se puder me manda a foto pois eu gostaria de entender também o que aconteceu já que eu acompanhava ele e sei que era saudável”. A médica atendia Henry desde seu nascimento e, no dia 18 de fevereiro, foi procurada pela professora, que relatara que o menino estava “com medo excessivo de tudo”, tinha “um medo intenso de perder os avós” e apresentava “um sofrimento significativo e prejuízos importantes nas relações sociais, influenciando no rendimento escolar e na dinâmica familiar”.
Na mensagem, Monique também havia contado que, quando o filho vê o Jairinho, “diz que está com sono, que quer dormir e não olha para ele”. Escreveu ainda: “Nunca dormiu sozinho, mas antes ficava no quarto esperando irmos ao banheiro ou levar um lanche, agora se recusa a ficar sozinho, não tem apetite, está sempre prostrado, olhando para baixo, noites inquietas com muitos pesadelos e acordando o tempo inteiro. Chora o dia todo”.
A conversa ocorreu seis dias depois de Monique ser alertada, em tempo real, pela babá Thayná de Oliveira Ferreira. A funcionária mandou mensagem para a patroa, por volta de 16h do dia 12 de fevereiro, contando que Jairinho havia se trancado em seu quarto com Henry. Ao sair do cômodo, o menino estava mandando, tinha hematomas nos braços e nas pernas e reclamava de dores na cabeça. Na ocasião, ele relatou ter levado “bandas” e “chutes” do padrasto.
Por Paolla Serra
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