Educação

Enem 2021: ‘Admirável Gado Novo’, racismo, erotização da mulher e o que mais caiu na prova, segundo professores

Foto: Divulgação

Segundo Gabryel Real, gerente de Processos Avaliativos do SAS Plataforma de Educação, uma das questões pedia que o aluno relacionasse a condição social atual no Brasil com um trecho de “Admirável Gado Novo” que fala sobre “massa” e “vida de gado”.

A música foi lançada em 1979, quando o Brasil vivia sob ditadura militar, mas o tema do regime militar, especificamente, não apareceu na prova de forma mais direta, segundo quatro professores ouvidos pelo g1.

De acordo com Renato Pellizzari, professor de História do Descomplica, a resposta correta a essa é essa pergunta era a que citava uma postura de passividade.

Em outra pergunta, foi tratado o tema da erotização do corpo feminino com a ilustração de uma “pin-up”, que é a designação em inglês que se refere a uma modelo voluptuosa.

Em relação ao racismo, Real disse que uma pergunta mencionava um episódio da Copa de 1950 em que jogadores negros da Seleção Brasileira, como o goleiro Moacyr Barbosa, foram considerados bode expiatório pela perda do título, citado pelo Observatório da Discriminação Racial do Futebol.

Claudio Hansen, do Descomplica, diz que houve várias questões sobre a escravidão. Uma delas trazia uma notícia sobre recompensa de escravos fugidos e das estratégias dessas pessoas pessoas durante a fuga. Outra, sobre hierarquia entre as pessoas escravizadas.

A pauta racial também foi abordada em perguntas sobre o aumento da população carcerária brasileira e a predominância de jovens negros de baixa renda entre os novos presos.

Leitura crítica de notícias, tempo de tela pelas crianças e mais

Outra pergunta trazia um texto do Observatório da Imprensa e falava sobre a importância de fazer leitura crítica das notícias, mas sem fazer menção direta ao tema “fake news”, segundo Gabryel Real, do SAS.

Segundo Real, o Enem também abordou da questão indígena ao tratar da popularização nas redes sociais da prática de incluir no sobrenome o termo “guarani kaiowá” como forma de denúncia dos crimes cometidos contra os povos indígenas.

Rodrigo Magalhães, professor de Geografia do Colégio e Curso AZ, diz que a questão indígena foi tratada também em questões sobre como o conhecimento indígena sobre sementes ajudou na relação da produção agrícola. Magalhães cita ainda o impacto da mineração na Amazônia sobre minorias.

Na avaliação de Guilherme Freitas, professor de história geral da Escola Seb Lafaiete, esta edição do Enem foi “muito social”, “com diversos temas que abordam movimentos sociais e lutas de minorias“.

“Tivemos [Friedrich[ Engels, [Thomas] Piketty, duas questões com texto da ‘Carta Capital’, população carcerária, muitas questões sobre indígenas e escravidão. Diretamente contrário às ideias de que seria uma prova com a cara do governo“, afirma.

Em outra questão, o exame trouxe um infográfico sobre o tempo que as crianças passam em frente às telas.

Na prova de inglês, Gabryel afirma que havia uma questão que usava como referência o livro de memórias da Michelle Obama, ex-primeira-dama dos Estados Unidos.

Na prova de linguagens, havia quatro questões que cobravam a análise de trechos de obras do escritor Machado de Assis, incluindo “O Alienista”, “Um homem célebre” e “Uma ocorrência singular”.

Obras clássicas que costumam ser cobradas no Enem também apareceram, como “Sagarana” e “A Nova Califórnia”.

Por G1
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