O vice-presidente Hamilton Mourão chega no domingo (19) a Pequim em busca de investimentos e novos mercados, em meio às tensões comerciais entre a China, o maior parceiro comercial do Brasil, e os Estados Unidos, principal aliado do governo de Jair Bolsonaro.
Mourão vai começar sua agenda na segunda-feira reunindo-se em Xangai com o presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, bloco dos países emergentes, que em novembro vai celebrar uma cúpula no Brasil, e na quinta-feira chefiará ao lado do contraparte chinês, Wang Qishan, o quinto encontro da comissão de cooperação bilateral Cosban.
No dia seguinte, no encerramento de sua visita ao país asiático, Mourão será recebido pelo presidente Xi Jinping, a quem entregará uma carta de Bolsonaro.
“Vamos procurar passar uma mensagem política do presidente Bolsonaro ao governo chinês e ao mesmo tempo comunicar o nosso posicionamento em relação à iniciativa Belt and Road [Novas Rotas da Seda]”, um faraônico programa de infraestruturas impulsionado pela China, disse Mourão em entrevista esta semana à TV Brasil.
O encontro deve preparar o caminho para a visita do presidente brasileiro à China no segundo semestre e ajudar a dissipar o mal-estar criado desde a campanha eleitoral, quando o então candidato afirmou que a segunda economia mundial estava “comprando o Brasil”.
– Equilíbrio entre potências –
O Brasil busca precisamente atrair novos investimentos – principalmente em infraestrutura para transporte e energia – e vender mais alimentos brasileiros, sem comprometer sua nova aproximação com os Estados Unidos.
Em março, Bolsonaro fez sua primeira visita oficial a Washington e conseguiu que Donald Trump, de quem se diz admirador, indicasse o Brasil como aliado preferencial extra Otan.
Meses antes, setores da ala mais radical do governo criticaram uma delegação de parlamentares brasileiros que visitou a China, um país que continuam vendo como ameaça comunista.
Mourão, general da reserva que em vários momentos atuou como moderador destas forças, parece ter a missão de apaziguar estes atritos.
A tarefa exigirá destreza.
“Em linguagem militar é o que nos chamamos de dispositivo de expectativa, a China e os Estados Unidos disputam o mercado mundial, existe uma guerra comercial entre ambos países em curso (…) e o Brasil tem que saber aproveitar melhor essos momentos”, declarou.
“Temos um vínculo com os Estados Unidos (…) mas por outro lado, devemos ter um pragmatismo para entender a importância da China para o desenvolvimento econômico do Brasil”, afirmou.
O poderoso setor exportador brasileiro vê com preocupação qualquer ameaça ao seu principal mercado.
O Brasil registra há nove anos um consistente superávit comercial com a China, para onde vende principalmente produtos primários (soja e minério de ferro).
O excedente foi de quase 30 bilhões de dólares em 2018, com exportações que alcançaram os US$ 64,2 bilhões (+35% com relação a 2017) e importações de US$ 34,7 bilhões (+27%), de acordo com dados oficiais brasileiros.
As vendas para a China representaram 27% do total do faturamento externo da principal economia latino-americana.
Nos quatro primeiros meses deste ano, o Brasil acumulou um excedente de US$ 6,5 bilhões no comércio bilateral. Os investimentos chineses também foram um importante salva-vidas para o Brasil nos últimos anos, marcados por recessão e fraco crescimento.
No final de 2018, o estoque de investimentos chineses no Brasil totalizava 69 bilhões de dólares em 155 projetos, principalmente em setores de energia, infraestruturas portuária e ferroviária e financeira.
– Segurança alimentar –
O governo vê, inclusive, nichos para ampliar as exportações brasileiras de carnes de frango e porco, em um momento em que a China lida com uma epidemia de febre suína. E também acredita que o Brasil pode ampliar suas vendas de frutas e laticínios.
“A China tem uma questão muito séria que é a questão da segurança alimentar, e o Brasil tem uma capacidade extraordinária de produção de alimentos, então é essa estratégia que nós temos que traçar”, afirmou.
O Brasil também busca conquistar sua fatia em mercados mais sofisticados, como o aeronáutico, com os aviões da Embraer.
AFP
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