Ameaçada de perder seu acesso ao Android devido às sanções dos Estados Unidos, a gigante de telecomunicações chinesa Huawei apresentou nesta sexta-feira (9) um novo sistema operacional que deve equipar seus celulares.
O sistema, chamado HarmonyOS, foi apresentado pelo diretor-executivo da divisão de consumo, Richard Yu, em uma coletiva de imprensa na cidade de Dongguan (sul).
“Queremos trazer mais harmonia ao mundo”, disse ele.
O sistema operacional vai equipar os diferentes dispositivos da marca dentro do mesmo “ecossistema”.
Considerada a líder da tecnologia 5G, a Huawei foi incluída na lista negra do governo Trump por suspeita de servir como um canal para a espionagem chinesa, uma acusação que o grupo nega.
Consequentemente, as empresas americanas não são mais autorizadas, em tese, a vender produtos tecnológicos.
As autoridades americanas decidiram adiar as sanções por três meses, uma extensão que expira na semana que vem. Essa proibição também afeta o Google e o fornecimento de seu sistema operacional Android, que equipa a grande maioria dos telefones celulares do mundo, incluindo a Huawei.
O grupo sempre defendeu publicamente o desejo de substituir o Android em seus telefones por um sistema operacional próprio, mas afirma ter sido forçado a fazê-lo pelas sanções dos Estados Unidos.
Richard Yu disse que a Huawei pode assim prescindir do Android.
“Se não podemos mais usá-lo, podemos passar todos os nossos aplicativos para o HarmonyOS”, destacou.
– “Completamente distinto” –
Lançar um sistema operacional com todo ecossistema que o acompanha e conseguir convencer usuários e programadores a utilizá-lo é uma tarefa árdua.
Além do Android, do Google, o único sistema operacional suficientemente ampliado é o iOS da Apple, disponível apenas no iPhone.
A empresa de Shenzhen vem trabalhando em seu próprio sistema operacional desde 2012, inicialmente projetado para a Internet das Coisas (IoT).
“O HarmonyOS é completamente diferente do Android e iOS”, afirmou Yu.
O Google também está trabalhando em um sistema de operacional multiuso, “mas que ainda não está em estado de utilização”, completou.
Em 2010, a Microsoft tentou lançar uma versão móvel de seu Windows, mas conseguiu oferecê-lo apenas em seus próprios telefones celulares.
Quanto ao sistema “isento de royalties” Tizen, que a Samsung criou, é confidencial até o momento.
Sem acesso à versão completa do Android, dos populares serviços do Google e dos múltiplos aplicativos disponíveis na loja do Google Play, a Huawei poderá enfrentar dificuldades para conquistar os consumidores fora da China.
Yu disse que o HarmonyOS será instalado nas telas inteligentes que o grupo começará a vender no final do ano.
Em seguida, ele será incorporado a outros dispositivos (relógios inteligentes, alto-falantes inteligentes, sistemas de automotivos) primeiro na China e, depois, no restante do mundo.
O sistema estará disponível a todos na forma de “open source”.
“Queremos construir um sistema operacional global que não será usado apenas pela Huawei”, afirmou Yu.
Enquanto isso, a Huawei permanece no meio do embate aberto entre China e Estados Unidos.
Na quinta-feira, a China denunciou as regras anunciadas pelos Estados Unidos para vetar o grupo e outras empresas chinesas nos mercados americanos, acusando Washington de “abuso de poder”.
A Huawei foi fundada na década de 1980 por um ex-engenheiro do Exército chinês, Ren Zhengfei.
A filha dele, Meng Wanzhou, foi presa no ano passado no Canadá a pedido dos Estados Unidos. É acusada de ter violado um embargo contra o Irã, quando era a diretora financeira da Huawei.
Meng continua no Canadá, e um pedido de extradição ainda está pendente. Sem esses “elementos externos”, a Huawei poderia ter-se tornado a primeira fabricante mundial de celulares desde o início deste ano, observou Yu.
O grupo ocupa a segunda posição, à frente da Apple, mas atrás da sul-coreana Samsung.
AFP
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