//De acordo com um artigo publicado em 6 de abril de 2018 pelo jornal Folha de S. Paulo, cerca de 258 milhões de pessoas mudaram de país em 2017, compondo um fluxo de 50% acima do registrado no começo do século e que tende a crescer de acordo com especialistas em imigrações, consultados pela reportagem.
Apenas no Brasil temos, atualmente, um número que gira em torno de 750 mil pessoas vindas de outros países. Entre 2010 e 2015 recebemos pouco mais de 70 mil haitianos e, recentemente, recebemos aproximadamente 40 mil venezuelanos, de acordo com a Folha de S. Paulo.
Esses são os maiores fluxos registrados, mas não as únicas nacionalidades que recebemos em nosso país anualmente. O Dia Mundial do Refugiado foi comemorado em 20 de junho, em que se celebra a resistência e força de todas as pessoas que fogem das más condições existentes nos seus países de nascimento para outros lugares do mundo, buscando melhores condições de vida e existência.
Só que o que observamos todos os dias, nos noticiários, são mais levas e levas de refugiados se arriscado e morrendo no Mar Mediterrâneo, entre a Europa e a África. Esse é um período de autorreflexão para nós brasileiros sobre como entendemos e tratamos os refugiados e os imigrantes em geral. Somos uma nação conhecida pela hospitalidade e acolhimento para com todos que aqui chegam.
São Paulo é tida como a cidade dos mil povos. No entanto, diversos episódios de preconceito, racismo e xenofobia têm sido relatados por imigrantes e refugiados. A rejeição tem sido constante, bem como a exclusão, seja por medo de que eles estejam ocupando lugares que deveriam ser exclusivamente do povo brasileiro, seja por simples incompreensão das condições sociais e políticas que fazem essas pessoas se deslocarem de seus lugares de origem e escolher este país para uma nova chance.
A socióloga holandesa Saskia Sassen, uma das maiores pensadoras desse século, classifica esses deslocamentos, bem como os processos que os formam, como expulsões e não simples imigrações, tamanha é a gravidade da situação que leva famílias inteiras a fazerem esses deslocamentos, nos alertando para o quão dramática é essa situação: “O momento da expulsão é o momento de uma condição familiar que se torna extrema. Você não é simplesmente pobre, você está com fome, perdeu sua casa, vive em barraco. Ou com a terra e com a água: não são simplesmente degradadas, são terras ou águas insalubres.
São mortas, acabadas. Nós tendemos a parar no extremo. Não entrar nele. O extremo é muito, muito feio e não temos conceitos para capturá-lo”. Se considerarmos que as imigrações ou expulsões são situações extremas e pensarmos que esse desequilíbrio traz malefícios ao mundo todo, devemos ter um olhar de generosidade e solidariedade para com quem aqui chega em busca de novas oportunidades.
E precisamos pensar que não há só um dever cívico de promover o acolhimento, além disso, é necessário cobrar que as políticas públicas aprimorem-se e sejam construídas pensando nessa face das consequências das desigualdades produzidas por todos os povos do mundo. Exemplo da solidariedade que precisamos ter é a comoção que começa a ser gerada diante da política de Donald Trump de tratar como criminosos as pessoas que tentam se deslocar para os Estados Unidos da América.
Tal tratamento tem resultado na separação dramática de pais de seus filhos, ainda que estes estejam, por exemplo, em período de amamentação. O muro da fronteira entre Estados Unidos e México que o presidente norte-americano pretende construir é um símbolo de um conjunto de políticas que servem de exemplo por onde não caminhar no acolhimento de pessoas em situações tão dramáticas.
Melhor seria que uma proposta como a de uma Renda Básica de Cidadania como política universal e incondicional seja implementada a partir da participação de todos os países da América.
Tenho absoluta convicção de que casos de expulsões que geram deslocamentos de pessoas teriam na Renda Básica uma política pública que oferece alternativas de maior dignidade e liberdade onde quer que se esteja como um direito de participação na riqueza da humanidade, não importa a origem, raça, sexo, idade, condição civil ou socioeconômica da cada ser humano, inclusive aqueles que se encontram em deslocamento forçado, como os imigrantes.
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