Há vários anos, o Brasil vive cotidianamente a Operação Lava-Jato e suas consequências, entre elas a prisão do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. A Operação, sempre escoltada pela mídia, construiu mitos e desfez reputações. O juiz Sergio Moro, de primeira Instância, passou a ser cultuado como herói por amplos setores da sociedade, da política e da imprensa. Hoje, é ministro da Justiça de Bolsonaro.
Na Itália, a “Mani Pulite” – Mãos Limpas – durou 16 meses e ficou restrita a Milão. Começou pra coibir a ingerência da Máfia nas eleições, mas arrasou os partidos. A Operação criou enorme desalento na população e pavimentou a avenida para um cantor pobretão, Sílvio Berlusconni, que animava shows em navios, formar seu partido e se eleger presidente da República.
O Repórter Sindical na Web da quarta (24) recebeu o historiador José Luiz Del Roio, que também foi senador na Itália e deputado no Parlamento Europeu. Ele vivia no país na época da “Mani Pulite”. No Senado foi colega de um ex-integrante do chamado “pool de procuradores”.
O historiador situa a operação no xadrez da nova guerra fria. “A Itália saiu unida da Segunda Guerra, com duas forças políticas ativas. O Partido Comunista tinha 1/3 dos votos. A Democracia Cristã liderava o outro bloco. Apesar da disputa, dentro das regras democráticas, o país se tornou uma potência industrial e ficou entre os dez maiores PIBs”.
E depois da Mani Pulite? “A indústria sofreu um baque e o grande operariado italiano praticamente desapareceu. Na política, no vazio criado pela fúria investigatória, surgiu Berlusconi, hoje dono de 10 bilhões de Euros”, comenta.
URSS – Com o fim da União Soviética, a Itália perdeu a condição de anteparo ao avanço socialista na Europa. “Não tinha mais o mesmo peso. A geopolítica passou a ser Norte contra Sul. Sua decadência beneficiou a Alemanha.
Depois, vieram os Brics e isso começa a explicar a Lava-Jato no Brasil”, diz o historiador. Para Del Roio, “sofremos um golpe, vivemos esse golpe e não sabemos até onde ele vai”.
O comando obedece aos Estados Unidos, beneficia o grande capital e privilegia o setor financeiro. Del Roio alerta: “Farão tudo pra aprofundar a operação. Não digo que farão aqui e o que houve na Líbia e Síria. Mas também não descarto”.
José Luiz Del Roio lamenta que parte da esquerda e segmentos democráticos não tenham ainda entendido o que acontece. Essa incompreensão, ele diz, dificulta reações mais organizadas e amplas. Na Itália, o senador viu a intolerância avançar. “Ódio e preconceito foram estimulados. Isso contaminou a sociedade”, relata.
Chamamento – Del Roio se incomoda com o silêncio dos chamados setores democráticos da sociedade. Para ele, esses setores precisam erguer a voz contra os ataques à democracia e também para mobilizar a Nação. “Os que pensam que a situação se estabiliza estão errados. Quem gestou o golpe e colocou em marcha as forças do atraso não vai parar. É preciso reagir e mostrar saídas”, afirma.
Clique aqui e assista na íntegra à entrevista ao jornalista João Franzin.
Agência Sindical
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