Economia

Petrobras eleva diesel em 14,26% e gasolina em 5,18%, reduz defasagem mas gera protestos

Frentista abastece veículo em posto de combustível no Rio de Janeiro 10/03/2021 REUTERS/Pilar Olivares

Por Letícia Fucuchima e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) – A Petrobras anunciou nesta sexta-feira reajustes de 5,18% para a gasolina e de 14,26% para o diesel, valendo a partir de sábado, mesmo sob forte protesto do presidente Jair Bolsonaro e da classe política em meio à pressão inflacionária em ano eleitoral.

No caso da gasolina, o preço médio de venda para as distribuidoras passou de 3,86 reais para 4,06 reais por litro. A alta ocorre 99 dias após o último reajuste, em 11 de março. Já para o diesel, o valor do litro subiu de 4,91 reais para 5,61 reais, após a estatal ter feito a última alteração há 39 dias.

Com a mudança, a Petrobras reduz a defasagem de seu preço ante o mercado externo, mas ainda venderá os combustíveis com desconto, de 10% para o diesel e 14% para a gasolina, segundo cálculos do Credit Suisse, diante da firmeza da cotação do petróleo e do dólar frente ao real.

Em comunicado nesta sexta-feira, a Petrobras enfatizou a importância de sua política de preços ao mesmo tempo em que disse ser sensível e compreender “os reflexos que os preços dos combustíveis têm na vida dos cidadãos”. Mas indicou que o movimento é importante para a “continuidade do suprimento do mercado brasileiro, sem riscos de desabastecimento”, pelos diversos atores: importadores, distribuidores e outros produtores, além da própria empresa.

Em meio a esforços do Congresso Nacional e do governo para reduzir preços por meio da redução tributária, a ação da Petrobras, que pode limitar o efeito da queda de impostos para os consumidores, recebeu críticas até de quem sempre defendeu a paridade de preços com o mercado externo.

“Acho que a Petrobras fez a coisa certa do ponto de vista técnico, mas está faltando sensibilidade à empresa do ponto de vista político e social por conta do momento que o mundo está passando”, disse o consultor Adriano Pires, que chegou a ser indicado neste ano para o posto de CEO da petroleira, mas desistiu por questões de conflito de interesse.

“Qualquer empresa privada e de economia mista sabe que não tem que levar a gestão a ferro e fogo. Tem que ter sensibilidade política, por que não aumentar depois ou aumenta menos? Falta à Petrobras essa sensibilidade…”, disse Pires, citando o “mega esforço” e a “briga” com governadores para reduzir o ICMS.

“Aí vem a Petrobras numa canetada e estraga a festa!?”, afirmou ele, acrescentando que o governo também deveria ter tomado ações prévias para evitar impactos para os consumidores.

Os preços na bomba serão impactados, com reflexo na inflação: 0,14 ponto percentual pelo aumento da gasolina e 0,04 ponto percentual para o diesel, segundo cálculos da Fundação Getulio Vargas.

O anúncio da Petrobras já era esperado desde quinta-feira, quando o jornal O Globo publicou que a petroleira obteve aprovação de seu conselho de administração para os reajustes. O presidente Bolsonaro comentou a informação, sugerindo que o novo aumento teria motivações políticas contra seu governo.

A estatal reiterou seu compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com o mercado e também destacou que tem evitado o repasse imediato para os preços internos da volatilidade das cotações internacionais do petróleo e da taxa de câmbio.

“Esta prática (evitar repasse imediato) não é comum a outros fornecedores que atuam no mercado brasileiro que ajustam seus preços com maior frequência, tampouco as maiores empresas internacionais que ajustam seus preços até diariamente”, disse a estatal.

“Dessa maneira, observando a evolução do mercado, foi possível manter os preços de venda para as distribuidoras estáveis por 99 dias para a gasolina e 39 dias para o diesel”, acrescentou.

Até o final da semana passada, segundo o Itaú BBA, os preços da gasolina estavam 28% abaixo da paridade, enquanto os preços do diesel tinham uma diferença de 19%. Já a XP Investimentos notou que um novo aumento era iminente apesar da pressão política, já que os preços estavam “mais uma vez bem abaixo dos níveis internacionais”.

Os preços do GLP (gás de cozinha) foram mantidos.

A Petrobras observou ainda que a mesma conjuntura que impacta os preços dos combustíveis tem “externalidade positiva” na geração de recursos públicos, com maior arrecadação da União com tributos e participações governamentais, além de pagamentos de dividendos.

A declaração da estatal vem em meio à insatisfação declarada de Bolsonaro com os lucros da Petrobras. Nesta sexta-feira, o presidente disse que o governo, como acionista, é contra qualquer reajuste nos combustíveis, “não só pelo exagerado lucro da Petrobras em plena crise mundial, bem como pelo interesse público previsto na Lei das Estatais”.

Em seu comunicado, a Petrobras disse que os dividendos pagos à União podem ser usados em políticas públicas, inclusive para amenizar o impacto dos aumentos.

“Adicionalmente, no ano de 2021, a Petrobras pagou de dividendos para a União o montante de 27 bilhões de reais, e no ano corrente, até julho, destinará ao acionista controlador o montante de 32 bilhões de reais. Esses recursos podem contribuir para o orçamento de políticas públicas, incluindo formas de mitigar os impactos da crise atual sobre os preços dos combustíveis”, disse a estatal.

A Petrobras também disse reconhecer as medidas que o governo e Congresso vêm explorando na esfera tributária para mitigar os níveis de preços de diversos produtos da cadeia de consumo, mas disse que elas “não desconectam os preços ex-tributos das commodities no mercado brasileiro das flutuações do mercado internacional”.

 

(Com reportagem adicional de Gabriel Araujo)

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