Brasil

Petroleiro de bandeira grega é principal suspeito de manchas de óleo no Nordeste

O óleo foi visto ao longo da costa atlântica do nordeste do Brasil, incluindo Pernambuco, onde voluntários são retratados limpando. Foto: AFP/Arquivos / LEO MALAFAIA

Um petroleiro de bandeira grega é “o principal suspeito” das manchas de óleo que há dois meses apareceram ao longo de mais de 2.000 km do Nordeste, informou o Ministério da Defesa nesta sexta-feira (1) em comunicado.

O navio carregava petróleo venezuelano com destino à África do Sul e à Nigéria, segundo o ministério da Defesa, a Marinha e a Polícia Federal (PF). Segundo a Agência Brasil, que cita fontes da PF, o destino final era Singapura.

A investigação acompanhou 1.100 navios que transitaram pela área, limitando suas observações a um grupo de 30 embarcações até a conclusão de que o navio grego era o principal suspeito do derramamento de óleo.

A PF afirmou em outro comunicado que pela manhã realizou uma operação de busca e apreensão nos escritórios de representantes de uma empresa de Rio de Janeiro “vinculados aos donos” do navio suspeito.

Segundo o Ministério Público, o dano desse derramamento é de “proporções imensuráveis”. O desastre ambiental atingiu estuários, manguezais e foz de rios em todo o nordeste brasileiro, com prejuízos para as atividades pesqueira, de maricultura e turística.

Até 29 de outubro, as manchas apareceram em nove estados, 94 municípios e 264 localidades. Milhares de voluntários se mobilizaram para limpar as praias, muitas delas com grande atrativo turístico, de onde foram retiradas toneladas de hidrocarboneto.

Foram encontrados 107 animais afetados pelo óleo, sendo 81 mortos. Cerca de 70% dos animais contabilizados eram tartarugas marinhas.

“Deixei de fazer minhas coisas, minhas obrigações para vir limpar. Amo este lugar. Não vou ficar de braços cruzados. Se houver voluntários que queiram vir nos ajudar a continuar limpando a praia, que venham. E que os turistas voltem, isso é o que a gente quer”, disse à AFP Gláucia Dias de Lima, uma vendedora de côco na praia de Itapuama, a cerca de 30 km de Recife.

– O peixe, “um bicho inteligente” –

A ONU expressou na terça-feira sua “profunda preocupação” pela maré negra que provoca “danos incalculáveis nos ecossistemas marítimos e terrestres e na vida das populações locais”.

Esses balanços contrastam com as avaliações do governo do presidente Jair Bolsonaro, acusado por especialistas e ONGs de ter reagido tardiamente e de minimizar a importância do desastre.

Também na terça, o governo proibiu a pesca nas áreas afetadas, mas no dia seguinte voltou a autorizá-la, alegando que havia agido pelo “princípio de precaução” e que nada justificava manter a medida.

O secretário de Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Júnior, descartou na quinta-feira, em uma transmissão ao vivo pelo Facebook ao lado de Bolsonaro, que os peixes possam ser afetados, alegando que são animais “inteligentes”.

“O peixe é um bicho inteligente. Quando ele vê uma manta de óleo ali, capitão, ele foge, ele tem medo. Então, obviamente que você pode consumir seu peixinho sem problema nenhum. Lagosta, camarão, tudo perfeitamente são, capitão”, disse Seif Júnior dirigindo-se a Bolsonaro.

– A mancha original –

As autoridades chegaram à conclusão de que o navio grego é o “principal suspeito” depois de analisar seu trajeto e detectar uma mancha de petróleo em uma imagem satélite de 29 de julho, a cerca de 700 km do estado da Paraíba, e compará-la “com imagens de datas anteriores, nas quais não se identificaram manchas”, explicou o comunicado do ministério da Defesa, da Marinha e da PF.

O documento afirma que o navio suspeito sempre manteve ativos seus sistemas de monitoramento e que em nenhum momento comunicou sobre o derramamento.

As investigações buscam determinar agora se o derramamento foi “acidental ou intencional” e medir o volume do petróleo derramado.

A PF informou também que o navio “ficou detido nos Estados Unidos por quatro dias, devido a incorreções de procedimentos operacionais no sistema de separação de água e óleo para descarga no mar”.

 

AFP

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