O chefe da polícia de imigração da Tailândia disse que o país não deportará uma jovem saudita que fugiu de sua família no fim de semana, devido a preocupações com sua segurança.
Autoridades de imigração tailandesas tentaram devolver Rahaf Mohammed al-Qunun, 18 anos, ao Kuwait, onde sua família está.
Ela recusou-se a embarcar em um voo para a Cidade do Kuwait na segunda-feira e se trancou em seu quarto de hotel no aeroporto de Bangkok.
A adolescente disse acreditar que sua família a mataria se ela voltasse.
“Meus irmãos e familiares e a embaixada saudita estarão me esperando no Kuwait”, disse ela à Reuters.
“Minha vida está em perigo. Minha família ameaça me matar pelas coisas mais triviais.”
Grupos de direitos humanos, incluindo a Human Rights Watch, expressaram graves preocupações para Mohammed al-Qunun, que chegou ao aeroporto internacional de Bangcoc em um voo do Kuwait. Ela viajou para a Tailândia para um vôo de conexão para a Austrália, onde esperava pedir asilo.
Ela disse que não deixará seu quarto de hotel até que possa se encontrar com a agência de refugiados da ONU.
Melissa Fleming, chefe de comunicações da agência de refugiados, twittou às 18:25 (11:25 GMT) na segunda-feira que “Nossa equipe de proteção de Bangkok está se reunindo com @ Rahaf84427714 agora”.
O chefe da polícia de imigração da Tailândia, Surachate Hakparn, disse na segunda-feira à tarde, horário local, que o país “a protegeria da melhor maneira possível”.
“Ela está agora sob a soberania da Tailândia, ninguém e nenhuma embaixada pode forçá-la a ir a qualquer lugar”, disse ele. “Vamos conversar com ela e fazer o que ela pedir.
“Desde que ela escapou de problemas para buscar nossa ajuda … nós não mandaremos ninguém para a morte.”
Uma liminar apresentada por advogados tailandeses no tribunal criminal de Bangcoc para impedir a deportação foi rejeitada na segunda-feira.
A Tailândia não é signatária da Convenção de Refugiados da ONU e não oferece proteção legal aos solicitantes de refúgio – embora haja mais de 100.000 refugiados no país.
A Tailândia inicialmente disse que estava sendo deportada porque não tinha os requisitos para um visto tailandês. No entanto, Mohammed al-Qunun insiste que ela tem um visto para a Austrália e nunca quis ficar na Tailândia.
A embaixada saudita em Bangcoc havia dito anteriormente que Mohammed al-Qunun seria deportada para o Kuwait “onde vive a maior parte de sua família”.
A agência disse que a Arábia Saudita não tem autoridade para segurá-la no aeroporto ou em qualquer outro lugar, e que as autoridades estão em contato com o pai dela.
Robertson, da Human Rights Watch, disse à BBC: “Parece que o governo tailandês está fabricando uma reportagem de que ela tentou pedir um visto e foi negado … na verdade, ela tinha um bilhete para ir à Austrália, ela não queria entrar na Tailândia em primeiro lugar “.
Ele argumentou que as autoridades tailandesas tinham cooperado claramente com a Arábia Saudita, pois as autoridades sauditas conseguiram encontrar o avião quando este chegou.
Como o mundo foi alertado?
Ms Mohammed al-Qunun começou a atrair atenção com seus posts de mídia social no fim de semana. Ela também deu a um amigo acesso à sua conta no Twitter, chamando-a de contingência para o caso de algo acontecer com ela.
Ela disse à BBC Newshour que ela estava em um hotel na área de trânsito.
“Eu compartilhei minha história e minhas fotos nas mídias sociais e meu pai está com tanta raiva porque eu fiz isso … Eu não posso estudar e trabalhar no meu país, então eu quero ser livre e estudar e trabalhar como eu quiser”. ela disse.
As mulheres na Arábia Saudita estão sujeitas a leis de tutela masculinas, o que significa que elas precisam da permissão de um parente do sexo masculino para trabalhar, viajar, casar, abrir uma conta bancária ou até mesmo deixar a prisão.
Ms Mohammed al-Qunun escreveu no Twitter que ela decidiu compartilhar seu nome e detalhes, porque ela não tinha “nada a perder” agora.
Ela pediu asilo de governos ao redor do mundo.
Uma foto dela apareceu em seu quarto enquanto as autoridades supostamente estavam do lado de fora, esperando para colocá-la em um voo de volta ao Kuwait.
O major general Surachate Hakparn, da polícia tailandesa, disse à BBC que Mohammed al-Qunun estava fugindo de um casamento e classificou o caso como um “problema familiar”.
Por que teme pelo seu bem-estar?
Mohammed al-Qunun disse à BBC que ela havia renunciado ao Islã e temia que sua família a matasse caso ela fosse mandada de volta à Arábia Saudita.
Ela explicou ao New York Times: “Eles vão me matar porque eu fugi e porque anunciei meu ateísmo. Eles queriam que eu orasse e usasse um véu, e eu não queria”.
A liberdade de religião não é legalmente protegida no reino islâmico, e as pessoas que convertem a outra religião correm o risco de ser acusadas de apostasia – ou de abandonar suas crenças religiosas.
O crime é legalmente punido com a morte – embora os tribunais não tenham cumprido pena de morte nos últimos anos.
Alternativamente, Mohammed al-Qunun poderia ser acusada de “terrorismo”. A lei antiterrorista da Arábia Saudita e uma série de decretos relacionados são usados para criminalizar uma ampla gama de atos, incluindo insultar a reputação do país, prejudicar a ordem pública e “difundir o pensamento ateu de qualquer forma”.
Uma mulher adulta que não presta atenção ao seu tutor também pode ser presa sob a acusação de “desobediência”. Se uma mulher for detida por qualquer motivo, a polícia não a libertará a menos que seu tutor venha buscá-la, mesmo que ela não seja acusada criminalmente.
A premiada ativista Samar Badawi buscou refúgio em um abrigo para mulheres em 2008, alegando que seu pai havia espancado e abusado dela. Quando seu pai entrou com uma ação, ela foi presa e passou sete meses na prisão sob a acusação de “desobediência dos pais”.
Mariam al-Otaibi, outra ativista, passou 104 dias na prisão em 2017, depois que seu pai a prendeu sob acusação de “desobediência”.
Michael Page, diretor adjunto do Oriente Médio da Human Rights Watch, disse que as mulheres sauditas que fogem de suas famílias podem enfrentar “violência severa de parentes, privação de liberdade e outros danos sérios se forem devolvidas contra sua vontade”.
O caso ecoa com o de outra mulher saudita que estava em trânsito para a Austrália em abril de 2017.
Dina Ali Lasloom, 24, estava a caminho do Kuwait através das Filipinas, mas foi levada de volta para a Arábia Saudita do aeroporto de Manila por sua família.
Ela usou o telefone de um turista canadense para enviar uma mensagem, cujo vídeo foi postado no Twitter, dizendo que sua família a mataria.
Seu destino ao voltar para a Arábia Saudita continua desconhecido.
BBC
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