Saúde

SP e Rio São os únicos Estados que devem usar Coronavac como 3ª dose

13/07/2021 REUTERS/Caroline Chia

Apesar de o Ministério da Saúde ter recomendado o uso das vacinas de Pfizer, AstraZeneca e Janssen como reforço na proteção contra a covid-19, os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo incluíram a Coronavac como uma opção para a dose extra. A aplicação de uma terceira dose da vacina do Butantan é segura e não causa reações graves, mas especialistas criticam a decisão de usá-la como dose de reforço porque ela é menos eficaz, especialmente entre os idosos.

Em São Paulo, o início da aplicação da chamada “terceira dose” está marcado para a próxima segunda-feira. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, foram distribuídas 380 mil doses e os municípios estão orientados a utilizar todas as vacinas disponíveis. O Ministério da Saúde programou para o dia 15 de setembro o início dessa nova fase da campanha e, portanto, só deve distribuir as doses da Pfizer na metade do mês.

Na capital paulista, o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, também disse que entre os dias 6 e 15 de setembro a cidade aplicará “a vacina que estiver disponível na unidade” como reforço. Após o dia 15, com a chegada das doses que devem ser enviadas pelo Ministério da Saúde, o imunizante da Pfizer deve ser priorizado.

A nota técnica 27/2021 do Ministério da Saúde, que trata do assunto, diz que a dose de reforço deve ser aplicada em imunossuprimidos vacinados há 28 dias e em idosos acima de 70 anos vacinados há seis meses. Nesta etapa deve ser aplicada prioritariamente a vacina da Pfizer e, na falta dela, as vacinas da Janssen e da AstraZeneca.

No Rio de Janeiro, o Estado pretende misturar as vacinas. Quem tomou duas doses de Coronavac deve receber Pfizer, AstraZeneca ou Janssen como reforço. Aqueles que tomaram qualquer outra vacina contra a covid podem receber uma injeção extra da Coronavac. Já a cidade do Rio disse em nota que usará apenas Pfizer e AstraZeneca como reforço – a vacina da Janssen não está disponível no País neste momento. Outros 20 Estados e o Distrito Federal disseram à reportagem que não vão usar a Coronavac como dose de reforço. Acre, Amapá, Rondônia e Sergipe não responderam.

O infectologista Júlio Croda, pesquisador da Fiocruz e ex-membro do Centro de Contingência contra a covid de São Paulo, vê com bons olhos a combinação de vacinas, mas aponta que oferecer a Coronavac como terceira dose para os idosos não é uma boa estratégia. “A terceira dose com Coronavac pode ser aplicada em profissionais da saúde jovens, mas não nos grupos de risco. Os idosos estão mais vulneráveis atualmente e continuarão assim se usarmos a Coronavac no reforço.”

Para fins de comparação, o infectologista diz que estudos em pré-print, ainda não revisados por pares, mostram que a terceira dose da Coronavac aumenta em dez vezes a proteção contra a covid-19. Com a vacina da Pfizer, a eficácia aumenta entre cem e mil vezes.

Croda diz que a Coronavac cumpriu um papel fundamental no início da pandemia, principalmente por ser a única vacina disponível em grande quantidade no País, mas fala que agora temos opções melhores à disposição. “A Coronavac talvez tenha sido a vacina que mais salvou vidas porque chegou em tempo oportuno. Entretanto, neste momento, temos outras opções.”

O especialista vê a decisão de São Paulo como um movimento político do governo. “Talvez eles queiram usar a Coronavac porque compraram muitas doses. Dessa vez, quem está fazendo política é o governo de São Paulo”, observa.

Ele diz que nenhum outro país que usou a Coronavac em sua campanha de vacinação utilizou o mesmo imunizante como dose de reforço. “Chile, Uruguai, Bahrein, Emirados Árabes Unidos… Todos esses países vacinaram com a Coronavac e agora estão usando AstraZeneca ou Pfizer no reforço”, cita.

O imunologista Jorge Kalil reconhece a importância da terceira dose, mas diz que a Coronavac não deveria ser usada para este fim. “Não acho que vale a pena oferecer a Coronavac como dose de reforço sobretudo para idosos e imunossuprimidos. Eu seguiria o que foi definido no PNI (Programa Nacional de Imunizações).” Para embasar sua posição, o especialista cita que o dado de efetividade da Coronavac em idosos acima de 80 anos é muito baixo.

Butantan e OMS

Em nota, o Instituto Butantan lamentou a postura do Ministério da Saúde e diz que a decisão de não usar a Coronavac como dose de reforço tem “motivos políticos e ideológicos”. O instituto disse que a pasta “atua desde o início da pandemia para desqualificar uma das melhores vacinas disponíveis no mercado”. Segundo o Butantan, estudos feitos pela Sinovac mostram que a terceira dose da vacina gera “robusta reação imunológica e aumento na produção de anticorpos”. O texto enviado ainda diz que “o Butantan defende o uso da Coronavac como imunizante de dose adicional para toda a população idosa e público imunossuprimido de qualquer faixa etária”.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, garantiu que, sem registro definitivo dado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Coronavac não será utilizada como dose de reforço. Segundo Queiroga, como o imunizante foi aprovado em uso emergencial, o registro definitivo deve ser pleiteado. “Se (o diretor do Butantan) Dimas Covas tem evidência científica, ele deve apresentar à Anvisa”, disse Queiroga, em entrevista à CNN Brasil.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) vem se manifestando contra a terceira dose de qualquer fabricante porque a maioria dos países ainda não conseguiu oferecer as duas primeiras doses da vacina para a sua população. Dados do site Our World In Data, ligado à Universidade de Oxford, mostram que 40% da população mundial já recebeu ao menos uma dose da vacina contra a covid-19. No entanto, esse volume está concentrado em países desenvolvidos, enquanto nas nações pobres apenas 1,8% das pessoas iniciaram o esquema vacinal.

Santiago Cornejo, diretor de Engajamento de Países do Covax Facility, disse em entrevista ao Estadão que este não é o momento de aplicar uma terceira dose. Ele reforça o discurso da OMS e pede que o foco seja oferecer as duas doses a toda a população mundial mais vulnerável para, depois, pensar no reforço. “Defendo que precisamos de vacinas para as populações de maior risco.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Estadão Conteúdo

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