De acordo com Ésper Kallás, no momento, o dado mais importante sobre a vacina – a ser aplicada em duas doses, num período de 15 dias – é perceber se está sendo bem tolerada
Recentemente, a terceira fase de testes da vacina contra a covid-19, com a aplicação da segunda dose da Coronavac, foi encerrada. A vacina desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, é considerada uma das vacinas mais promissoras nesta época em que testes vão sendo feitos em busca do melhor resultado possível.
Mas em que passo se encontra o estudo feito pela Sinovac e o Instituto Butantan? “É um estudo fase 3, fase final, antes de começar a verificar se a vacina vai funcionar ou não, e o que a gente tem como meta, em todos os centros participantes, inclusive o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FM) da USP, é incluir 13.060 participantes. Já estamos nos aproximando dos 9 mil”, comenta o professor Esper Kallás, titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP, coordenador do Centro de Pesquisas Clínicas do Hospital das Clínicas, responsável pelos testes da vacina.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, Kallás explica que o que vai determinar se a vacina é eficaz vai ser a verificação de que os casos de covid-19 estão mais concentrados no grupo que recebeu o placebo (em um estudo clínico, divide-se os voluntários em dois grupos: um que recebe o medicamento estudado e outro, o placebo). Se o número de casos do vírus ficar dividido entre os dois grupos, significa que a vacina não foi eficiente. No momento, o importante é perceber se as pessoas estão tolerando a vacina, e nesse caso, de acordo com Kallás, a resposta é afirmativa.
Outro dado interessante é que, se a queda no número de infectados pela pandemia ocorrer de forma muito intensa e rápida, o estudo pode ser prejudicado de forma indireta. Isso acontece porque, com a diminuição, o número de casos entre os participantes cai e demora mais para se acumular o montante necessário de indivíduos infectados a serem avaliados. Devido a essa questão, a China, por exemplo, não consegue desenvolver um estudo, pois a onda pandêmica já está bem menor. Pela necessidade de se analisar o vírus em ação, a concentração de estudos acaba ficando nas Américas e nos países europeus, que estão enfrentando uma segunda onda de transmissão.
“Sem a realização de projetos de vacina com voluntários, nós nunca teremos uma vacina contra o coronavírus e nós nunca teremos vacina contra qualquer coisa”, conclui o doutor, ao explicar a necessidade de a população entender que a procura de uma vacina eficaz depende dos corajosos voluntários, não apenas daqueles profissionais que estão diretamente ligados aos estudos.
As vacinas serão aplicadas em duas doses. Após a primeira aplicação, a segunda dose será administrada 15 dias depois. Saiba mais ouvindo a entrevista completa no player acima.
Por jornal USP
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