Líderes indígenas da América do Sul imploraram nesta segunda-feira (30) por ajuda na proteção contra a Covid-19, alertando que o vírus representa uma “ameaça existencial” para suas comunidades.
Enquanto boa parte da humanidade vive confinada em casa como forma de frear a pandemia, várias tribos de regiões da Amazônia e de Chaco (Argentina) pediram aos seus governos para protegerem os seus territórios dos que não fazem parte das suas comunidades, já que podem ser portadores do vírus.
“Os indígenas que vivem em isolamento voluntário são potencialmente vulneráveis às doenças infecciosas, já que não têm nenhuma imunidade frente para maioria desses males”, explicou Claudette Labonte, da Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA).
“Pedimos aos governos para intensificar a vigilância e a proteção dos territórios indígenas, muitos dos quais foram invadidos por mineradores, traficantes de drogas, madeireiros, invasores de terras e turistas”, afirmou à AFP Labonte, que faz parte da etnia Kamuyeneh da Guiana Francesa.
Labonte disse que os mineradores ilegais estavam aproveitando a circunstância da pandemia para aumentar a sua atividade na Guiana Francesa, e que os líderes da comunidade tinham decidido bloquear o rio Maroni como forma de proteção.
As comunidades indígenas são guardiãs cruciais da biodiversidade, um papel reconhecido pelo IPCC, grupo de especialistas da ONU sobre as mudanças climáticas. Protegem uma área florestal que contém mais de 200 bilhões de toneladas de carbono.
A taxa de desmatamento das terras indígenas é menos da metade que em outros locais, mas esses grupos estão igualmente ameaçados pelas atividades ilegais e por grandes projetos agrícolas promovidos por governos da região.
A COICA, que reúne 20 organizações indígenas de sete países sul-americanos, recomendou aos governos que verifiquem se os “isolamentos geográficos” desses grupos estejam sendo respeitados.
Caso esses limites não sejam respeitados, a Covid-19 poderia significar “uma ameaça existencial”, indicou Labonte.
– Um potencial efeito devastador –
Os povos indígenas conviveram com a ameaça das doenças infecciosas durante séculos, e estima-se que a população sul-americana tenha diminuído um quarto entre os anos de 1492 e 1650 por causa dos vírus e bactérias trazidos pelos colonizadores.
Michael McGarrell, da Nação Patamona da Guiana e coordenados de Direitos Humanos da COICA, disse à AFP que essas comunidades não contam com nenhuma defesa contra essas novas doenças.
“Corremos o risco de sermos impactados, principalmente poque muitas das nossas comunidades não têm meios necessários para enfrentar uma epidemia”, disse.
“Já que são pequenos (grupos) e vivem em comunidade, o coronavírus é um perigo para elas”, explicou.
Há várias maneiras para que o vírus chegue a grupos isolados, por exemplo por meio do grupo de evangélicos que atualmente tenta converter tribos amazônicas, afirma McGarrell.
Na última sexta-feira, autoridades locais brasileiras informaram que 10 membros da etnia Tikuna estavam em quarentena depois de terem tido contato com um funcionário da saúde que foi diagnosticado como positivo para a Covid-19.
“Com a chegada de apenas uma pessoa infectada, o impacto pode ser devastador”, disse McGarrell.
“Sabemos que quando chegaram os colonizadores, nossa gente foi dizimada por causa de doenças como a gripe e a varíola”, ressaltou.
AFP
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