Política

Um banqueiro em campanha

NA LAMA Pedro Guimarães (o segundo da dir. à esq.) chafurda no mangue em busca de caranguejos: garimpando votos para Bolsonaro (Crédito: Divulgação)

O presidente da Caixa vem usando a estrutura da instituição para promover os programas populistas de Bolsonaro e se cacifar para as eleições de 2022

O presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Pedro Guimarães, abraçou de vez o bolsonarismo e vem intensificando o processo de aparelhamento político do banco público, com o objetivo de viabilizar a reeleição do presidente e dar sequência ao seu próprio projeto de disputar as eleições de 2022. “Pedrão”, como é chamado pelo mandatário (outro apelido é PG2), ainda não sabe a qual cargo vai concorrer, mas ele já foi cogitado até para ocupar a vaga de vice na chapa encabeçada pelo ex-capitão. Existem, porém, alguns obstáculos que o afastam do cobiçado posto ao lado do chefe. O principal é a falta de representatividade política. Caso não seja, de fato, o escolhido para o papel de vice, Bolsonaro já avisou o correligionário de que ele terá apoio para disputar uma vaga no Senado ou até o governo do Rio. “Pedro Guimarães está deslumbrado com a proximidade que existe entre ele e o Palácio do Planalto. Há ministros que não conseguem ter o acesso que o presidente da Caixa tem a Bolsonaro”, disse um ex-integrante da cúpula do banco.

POLITIZAÇÃO A Caixa vem abrindo novas agências nos rincões do Brasil para agradar aliados do presidente: tudo pela reeleição (Crédito:Divulgação)

Independentemente de compor ou não a chapa de Bolsonaro, o presidente da Caixa tem se empenhado em mostrar subserviência ao presidente. Na semana passada, usou o banco para comprar uma briga com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em nome do capitão. O banqueiro ameaçou bancos privados ligados à entidade de perderem negócios com o governo federal caso assinassem o manifesto da entidade clamando pela harmonia entre poderes. “Pedrão” ganhou pontos com o mandatário, mas sua atitude não pegou bem na instituição. A avaliação é de que o banqueiro faz uma gestão meramente política, classificada por muitos como “nociva” aos interesses do banco.

Para turbinar a reeleição, Guimarães criou uma nova estrutura na Caixa, com 19 funcionários destacados apenas em administrar eventos dos quais o banqueiro participa, e fortaleceu a gerência promocional do banco com a criação do canal “Fale com o Presidente”. Esse departamento gerou gastos extraordinários de R$ 300 mil por mês aos cofres públicos. Isso, sem contar as despesas frenéticas que Guimarães vem fazendo com o aumento de viagens pelo Brasil. Desde o início do ano, já foram mais de 100. Sua meta é visitar outros 166 municípios até o fim de 2022. Essas expedições já custaram quase R$ 4 milhões ao banco. As viagens servem para aproximar Guimarães de lideranças locais, divulgando os programas populistas do governo. Além disso, ele usa essas viagens para inaugurar agências nos rincões do Brasil, a pedido de aliados do capitão, com o objetivo de fortalecer a base governista. Em uma dessas viagens, ele inaugurou uma superintendência da Caixa em Campina Grande (PB), base eleitoral do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Prefeitos e governadores costumam ser convidados para essas cerimônias, sempre bastante exploradas por Guimarães. Nos eventos, o banqueiro é flagrado fazendo corpo a corpo com a população, distribuindo abraços, cumprimentos e até tirando foto com crianças, como se candidato fosse. Em uma das suas andanças, o presidente da Caixa plantou árvores, dançou em uma festa junina e até entrou em um mangue no Recife (PE) para coletar carangueijo para divertir quem o acompanhava. Essa iniciativa de Pedrão colocar o pé na estrada encantou Bolsonaro.

Cooptação de PMs

Nenhum outro integrante do governo participou tanto das lives promovidas pelo presidente nas redes sociais quanto o presidente da Caixa. Foram mais de 22 participações este ano, o que mostra grande sintonia entre os dois. O alinhamento é tão grande que Guimarães estuda criar um programa especial para financiar moradias aos policiais militares. A Caixa poderá bancar 100% dos valores de imóveis para membros das forças de segurança estaduais. Trata-se de uma categoria estratégica dentro do plano golpista de Bolsonaro. Vários policiais passaram a manifestar publicamente apoio ao governo do capitão, o que é proibido pelo regulamento da corporação em todas as unidades federativas do país. A cooptação dos PMS conta agora com mais um cabo eleitoral de luxo do mandatário.

OUTRO LADO DA CAIXA

Desde janeiro de 2019, a CAIXA iniciou um ciclo de visitas técnicas, denominado “CAIXA Mais Brasil”, começando pelas regiões mais carentes do País. Essas visitas possibilitaram à alta gestão conhecer, nos fins de semana, as reais necessidades da população e dos clientes. Um exemplo da importância de se visitar as equipes da ponta foi a devolução de mais de 130 imóveis, a otimização de espaços e a redução de aluguéis, tendo como consequência direta a economia de R$ 10 bilhões, em valores presentes, considerando a perpetuidade dos contratos.

Entendendo melhor a realidade e otimizando os processos do banco, a CAIXA liderou o pagamento de benefícios sociais emergenciais durante a pandemia a 121,3 milhões de pessoas – sendo 68 milhões de beneficiários do Auxílio Emergencial e 38 milhões de pessoas bancarizadas -, somando R$ 736,4 bilhões, culminando na maior operação de inclusão bancária, social e digital da história do país.

Por meio de uma administração técnica e meritocrática, 14 mulheres foram alçadas a cargos de diretoras e vice-presidentes. Antes desta administração, nenhuma mulher ocupava cargos de dirigente. Também resultado do esforço da atual gestão, a marca da CAIXA valorizou R$ 2,8 bilhões em um ano e passou a figurar entre as 100 instituições financeiras mais bem avaliadas do mundo, segundo a consultoria Brand Finance.

O “CAIXA Mais Brasil” é, portanto, importante ação de gestão que permitiu maximizar o valor dos negócios e melhorar o cumprimento do objetivo social da CAIXA, resultando, nos últimos dois anos e meio, no lucro recorde de R$ 45 bilhões, um resultado sem precedentes e ligado diretamente ao conhecimento que se tem do público alvo.

Nesse contexto, ter um porta-voz do banco cumprindo o papel de divulgar e explicar as políticas públicas do Governo Federal não significa utilizar a estrutura do banco para promoção da imagem pessoal. Isso não é verdade.

Por Ricardo Chapola

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