Líderes de organizações indígenas lançaram uma campanha para exigir que as autoridades brasileiras expulsem os mineradores ilegais do território indígena yanomami, com o objetivo de frear a propagação do novo coronavírus no norte do país.
Intitulada “#ForaGarimpoForaCovid”, a campanha é apoiada por organizações brasileiras a favor dos direitos humanos e busca reunir 100.000 assinaturas para pedir a ação dos poderes Executivo e Legislativo.
“Precisamos urgentemente evitar que mais doenças se espalhem entre nós. Garimpeiros entram e saem de nossas terras em busca de ouro, sem nenhum controle”, explica o documento virtual.
Organizações como a Survival International e o Instituto Socioambiental (ISA) estimam que existem cerca de 20.000 mineradores ilegais no território Yanonami, cuja extensão é de 96.000 km2.
Na década de 1970, os Yanomami, também presentes na Venezuela e com quase 27.000 membros no Brasil, foram devastados assim como outros povos indígenas por doenças transmitidas por colonos estabelecidos na região, além de sofrerem invasões sangrentas por garimpeiros.
O Brasil, com mais de 500.000 casos e quase 30.000 mortes por coronavírus, é o segundo país do mundo com mais pessoas infectadas e o quarto com o maior número de mortes por causa do vírus.
Até 30 de maio, de acordo com o balanço da Articulação Não Governamental dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), 76 povos indígenas tinham sido afetados pela doença, deixando em suas terras 1.747 casos e 167 mortos. Três Yanomami já faleceram da COVID-19.
“é um problema já recorrente, mas agora é urgente”, disse Antonio Oviedo, pesquisador do ISA, à AFP.
Oviedo participou de um estudo realizado em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para avaliar o impacto da pandemia nas terras indígenas Yanomami.
O documento estima que, se medidas não forem tomadas, 40% dos Yanomami que vivem perto das áreas invadidas por mineradores (quase 14.000) poderiam ser infectados pelo vírus.
“Os mineiros estão entrando na terra indígena Yanomami contaminados com a COVID-19. É uma situação muito séria para os Yanomami, e é por isso que estamos fazendo campanha para que os não-indígenas se preocupem com a nossa situação. O coronavírus pode matar muitos Yanomami”, disse Dario Kopenawa, líder da Associação Hutukara Yanomami, citado pela Survival.
O presidente Jair Bolsonaro questionou a extensão da terra indígena Yanomami e defende a exploração econômica de áreas de preservação, demarcada em 1992.
“o contexto político não está nada favorável. Temos um ministro do Meio Ambiente que enxerga a pandemia como oportunidade para passar legislação que fragiliza a proteção ambiental. Por outro lado é responsabilidade do Estado deter essa atividade ilegal e criminosa”, ressalta Oviedo.
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